As govtechs são essenciais para aumentar a eficiência e estreitar o relacionamento entre governos e cidadãos. São empresas que desenvolvem soluções tecnológicas para gestão pública e estão tornando os serviços públicos tão eficientes quanto os oferecidos pelo setor privado.
Esse ecossistema ainda está em sua infância se comparado a outros nichos, mas tem grande potencial de crescimento. A pandemia da Covid-19 impulsionou fortemente a migração dos serviços públicos para o ambiente digital.
E, nos últimos anos, muitas barreiras que retardavam essa escalada foram vencidas, principalmente com relação à legislação. Com novas leis favoráveis ao ambiente regulatório para contratação de inovação pelo governo, esse ecossistema deve quintuplicar seu crescimento nos próximos três anos.
Um mapeamento do BrazilLab em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) – As startups Govtech e o futuro do governo no Brasil – revela que o Brasil é o país da América Latina com o maior número de startups negociando com o setor público.
Em 2019, quando o mapeamento foi divulgado, foram identificadas 80 govtechs brasileiras vendendo de maneira consistente para governos ou atuando em parcerias com o setor público de forma recorrente. Apenas 20 iniciativas de inovação aberta para o governo existiam há cinco anos.
De lá para cá, mais de 300 startups, pequenas e médias empresas foram criadas e passaram a vender ou colaborar com o governo. Um aumento de 275% na oferta de soluções focadas em resolver problemas do setor público. Hoje são 170 iniciativas de inovação aberta ou laboratórios de inovação voltadas para esse mercado, um crescimento de quase nove vezes, segundo o BrazilLab.
No entanto, esse é um mercado subaproveitado. Segundo o estudo, das 13 mil startups existentes no país, até 1.500 teriam potencial para atuação no mercado Business to Government (B2G), caso desejassem ofertar suas soluções tecnológicas para os governos.
Prestes a atingir um valuation de US$ 1 trilhão até 2025, segundo dados da consultoria inglesa Public, o mercado govtech pode se tornar um dos setores digitais mais importantes da economia global, se não o mais importante, criando novos e melhores serviços públicos.
Os investimentos, que giravam na casa dos R$ 200 mil, multiplicaram-se por 11, desde que o movimento govtech começou no Brasil. Este ano, o aporte na Aprova foi o maior da América Latina em uma govtech e abriu um precedente no setor: empreender no setor público pode ser tão sexy quanto ter uma fintech ou healtech.
Somente este aporte – equivalente a R$ 22,5 milhões – representa quase metade da quantia captada por govtechs brasileiras em oito das maiores operações divulgadas desde 2020, que totalizou R$ 48 milhões, segundo dados do LAVCA (Association for Private Capital Investment in Latin America) e Sling Hub.
O cenário para investidores e empresas investidas é bastante promissor, não apenas pelos impactos positivos da implementação de tecnologias no setor público, mas também porque o governo ainda carece de muitas ferramentas para melhorar a qualidade dos serviços consumidos pela população.
À medida que os gestores públicos identificam a importância dessa transformação – o que já vem acontecendo em muitos municípios brasileiros – a demanda aumenta e impulsiona investimentos em novas soluções, possibilitando que o mercado melhore a oferta de produtos e serviços públicos digitais.
Foi o que ocorreu na maior cidade da América Latina. São Paulo resolveu um problema que se arrastava há décadas: a demora de quase um ano para aprovar projetos. Com o licenciamento urbano digital, esse prazo foi reduzido em quase 80%. E a cidade bateu um recorde histórico: subiu de 39 mil para 131 mil unidades habitacionais autorizadas em 2021, comparando com o último ano sem a tecnologia.
Vivemos uma revolução silenciosa que está transformando o Brasil em um país digital, referência em serviços públicos autônomos e eficientes. O propósito é proporcionar uma experiência tão eficiente quanto a já vivenciada (e aprovada) pela população no setor privado.