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O Fla vs Flu corporativo de cada dia

Foto: divulgação.

Final de ano, campeonato brasileiro na sua reta final. Muita disputa em jogo, seja para ganhar o título, seja para não cair de divisão. Momento do ano em que ainda há times que precisam entregar o que não entregaram para garantir o bom resultado no final do calendário. 

Jogos intensos com estádios lotados e jogadores já cansados. As transmissões na TV e os programas esportivos estão fervendo com as possibilidades em jogo. Entre uma disputa de bola e outra; uma falta mal marcada do assoprador de apitos; uma intervenção do VAR desnecessária; o gramado sintético criado para sustentar os jogos e os grandes shows durante o ano. Tudo pode virar um motivo para acusação alheia do mal resultado.

No Brasil das guerras de narrativas que descobrimos se intensificar nos últimos anos, o futebol não estaria de fora dessa. Tudo serve como uma possibilidade de culpar a outra parte pelo mal desempenho, independente se o argumento é real ou não. Pouco se fala de dados e fatos, táticas ou estratégias; tudo vira uma grande disputa da melhor cortina de fumaça disponível para não falar do que realmente importa: a sua responsabilidade. 

Há quem defenda tudo isso por acreditar que também faça parte do jogo. Afinal, há um campeonato em disputa e longe de mim dizer que o meu time jogou mal e não fez a sua parte. 

Para mim, essa terceirização de culpa também acontece muito nas organizações. E esse é o Fla vs Flu corporativo que falo. 

Toda empresa tem, não importa o seu tamanho ou mercado de atuação. Aquela disputa de interesses inicial que vira uma transferência de culpa eterna colocando áreas dentro de um ringue imaginário decretando verdadeiros duelos na organização quando a melhor solução inicial seria simplesmente assumir a própria culpa. 

Aquela entrega que não aconteceu ou o cronograma que não foi respeitado quando, na verdade, faltou priorização e visão de projeto. Aquela demissão equivocada na metade da Release, mas a culpa foi do profissional que saiu pois era ele que não se encaixou na cultura organizacional. Assim como o retrabalho constante de uma determinada atividade quando o principal motivo foi a entrega pela entrega, sem se preocupar com a qualidade. 

Tudo pode virar uma narrativa que coloque, frente a frente, uma ou mais áreas disputando o lado bonzinho da sua versão da história. 

E assim como os times de futebol que afirmam estarem lá pela história, pela tradição e pelos seus torcedores, muitas lideranças invocam o argumento do cliente no centro, como se somente elas estivessem se preocupando com isso.

O papel intermediador e diplomático de uma liderança é fundamental para contextos assim. Esse tipo de competência pode amenizar as pressões organizacionais sobre essas áreas para identificar o que pode ajudar tanto um lado quanto o outro. É uma forma de ganha-ganha não velada. Por mais que ninguém vá declarar que não estejam querendo defender seus interesses individuais, na prática, o comportamento é esse. Essa ‘empatia velada’ ou nociva, é tão prejudicial quando a declarada. 

Que a coragem para mais momentos de conversas possa permear no dia a dia das áreas, enfrentando verdadeiros dilemas pensando no que for melhor para a organização como um todo e não somente o seu interesse isolado. 

Resolver dentro da sua própria hierarquia pode ser um ótimo começo. Buscar interesses em comuns para alinhamento sobre os próximos passos é uma boa forma de demonstrar que todos podem avançar no campeonato sem que a minha torcida fosse melhor que a sua. No final, todos fazem parte de um mesmo grupo de torcedores, não é mesmo?

E se ainda assim, você decidir escalar o problema como a solução imediata sem antes tratar com os seus pares a respeito, lembre-se: nem com a ajuda do VAR os times saem satisfeitos de campo. 

Segue o jogo.

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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