Por Nicole Morás, coordenadora de comunicação e relacionamento da Parceiros Voluntários.
O foco de muitas organizações está voltado para uma sigla pequena e muito falada atualmente: ESG. Ela se refere às boas práticas das organizações em três dimensões: Ambiental (E – Environment, em inglês), Social (S – Social, em inglês) e Governança (G – Governance, em inglês). E o que o Dia da Mulher tem a ver com isso?
O Dia da Mulher foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, há 49 anos. Desde então, muitas conquistas foram possíveis a partir de uma maior conscientização sobre direitos das mulheres e, depois de tanto tempo, a gente até pode se perguntar se ainda vale comemorar a data. A resposta é sim. Quero mostrar como o Mês da Mulher pode gerar reflexão sobre temas bem atuais como ESG. Vamos lá?
E, de Meio Ambiente ou Environment
A nossa relação com o meio ambiente é muito particular e pode-se dizer que as mulheres costumam ter uma relação mais sutil com a natureza até mesmo na regulação de alguns ciclos internos. Uma pesquisa da Yale, universidade americana, já mostra que as mulheres têm uma maior consciência sobre o aquecimento global. As mulheres também estão entre as maiores financiadoras de pesquisas sobre energias renováveis.
Além disso, uma pesquisa da ONU revelou que, além de ter maior consciência e atitude, as mulheres são mais afetadas pelos problemas gerados pelas mudanças climáticas.
A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) explica que as mulheres são responsáveis por produzir e coletar alimentos e água para cozinhar e as mudanças climáticas tornam essas tarefas cada vez mais difíceis.
E não posso deixar de comentar que muitas ativistas reconhecidas pela luta pelo Meio Ambiente são mulheres, como:
Amanda Costa — a ambientalista brasileira e fundadora do Perifa Sustentável. A sua luta é puramente contra a crise climática e racismo ambiental, para isso prega a justiça climática, sustentabilidade e conta com o engajamento jovem. É Jovem Conselheira do Pacto Global da ONU, Jovem Embaixadora da ONU, TedX Speaker, LinkedIn Top Voice e Creator, e já entrou na lista dos #ForbesUnder30.
Nemonte Nenquimo — Tem lutado para proteger 500.000 hectares da Amazônia equatoriana da exploração, salvaguardando vidas e meios de subsistência e estabelecendo um precedente legal para os direitos indígenas regionais. Em 2020, ela foi nomeada uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Times.
Nzambi Matee — fundadora da Gjenge Makers, uma empresa que usa plástico descartado para produzir blocos de pavimentação. Ela desenvolveu uma máquina que comprime uma mistura de plástico e areia em tijolos resistentes que são mais leves e mais duráveis do que o cimento. Seu negócio produz 1.500 pavimentadoras por dia, enquanto reduz a quantidade de resíduos plásticos nas ruas e em aterros sanitários.
Além de outras tantas mulheres que estão salvando o meio ambiente, segundo a ONU.
S, de Social
Quando falamos em questões sociais, não posso deixar de citar o voluntariado. E diversas pesquisas apontam que a maioria dos voluntários são mulheres. Uma pesquisa recente realizada pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostrou que 69% dos voluntários que participaram da pesquisa eram mulheres.
Além disso, no Brasil, 51% dos cargos de lideranças no Terceiro Setor são ocupados por elas, conforme uma pesquisa do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). A Gilma e a Júlia são ótimos exemplos de que grandes lideranças sociais no país são mulheres: Gilma fundou a Associação Camila em Defesa e Valorização da Vida, atuando na defesa dos direitos e justiça social, promovendo a Cultura de Paz, após ter uma experiência de violência que vitimou sua filha; e a Júlia cresceu no Ipanema, de onde via, pela janela de casa, as comunidades do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Foi na Rede Postinho (OSC que promove saúde preventiva às mulheres, por meio de atendimento interdisciplinar e da orientação), que ela encontrou a oportunidade de fazer trabalho voluntário.
A história delas e do Henrique foi contada no documentário Só Juntos – Dá pra mudar. É só começar” lançado pela Parceiros Voluntários justamente no dia 8 de março de 2023, disponível no site sojuntos.org.br
Ainda falando em Terceiro Setor no Brasil (lembrando que o Terceiro Setor engloba organizações de direito privado que não possuem finalidade lucrativa e exercem atividade de interesse social), 65% das as pessoas empregadas em OSCs também são mulheres de acordo com o Perfil das Organizações da Sociedade Civil no Brasil. Com o nosso novo propósito, vamos fazer o advocacy da causa do voluntariado.
G, de Governança ou Governance
A governança talvez seja o aspecto do ESG mais lembrado quando se fala em mulheres, afinal, diz respeito à presença feminina em espaços de representação e liderança.
Podemos pensar nisso como a composição de conselhos mais diversos com ampla participação das mulheres, na equidade salarial em cumprimento a novas legislações
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas apontou que organizações que têm alto desempenho em questões de ESG têm mulheres entre suas conselheiras ou diretoras. Aqui na Parceiros Voluntários, por exemplo, 60% dos membros titulares e suplentes dos conselhos Deliberativo, de Administração e Fiscal da PV são mulheres. Entre a equipe executiva, esse percentual é maior ainda: 80% de quem faz a PV acontecer no dia a dia são mulheres.
Duas siglas e um objetivo comum: ESG e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O ESG também se relaciona com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU em diversos aspectos, já que uma organização comprometida com a agenda 2030 e os ODS desenvolve práticas ESG. E o quinto objetivo fala justamente sobre equidade de gênero e empoderar meninas e mulheres.
Nesse sentido, o Dia da Mulher ainda é uma data especialmente importante para os objetivos de:
- 5.1. Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte
- 5.2. Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos
- 5.5. Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
Nós falamos muito em educação para a cidadania aqui na Parceiros Voluntários, e mulheres ocuparem espaço representativos na vida pública é uma forma de elas exercerem essa cidadania e terem esse direito respeitado.