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E os ciclos se repetem, também para o mercado financeiro

Foto: Divulgação

Por Jarbas Nei Maçaneiro, Diretor da BelSouth Gestão e Participações

É fato, o mercado financeiro tem a sua lógica. Aparentemente, é um mundo racional – baseado em números e estatísticas – que vai prover segurança para as transações e seus participantes. Óbvio, o risco é sempre presente – mas faz parte do negócio.

Para refletirmos sobre, vamos relembrar alguns eventos históricos do mercado – me refiro aqui aos últimos 30 anos. Desafio você a mudar seu olhar e perceber que o mercado não segue lógicas tão racionais.

Nos anos 90, o Long Term Capital Management abriu suas portas em 1994, com USD1,25 bilhões, utilizando um algoritmo criado por Merton e Scholes – agraciados com o Nobel de Economia. Com uma estratégia imbatível, o fundo foi vencedor por muito tempo, proporcionando retorno aos investidores.

Mas, os bons tempos não duram para sempre.

Em 1998, a Rússia declara moratória e destrói a maior parte das apostas do fundo, levando a ciência financeira ao extremo em termos de perdas. Um Cisne Negro, como são chamados os eventos inesperados, quebrou toda a lógica do infalível algoritmo do LTCM e a grande falha das mentes brilhantes foi confiar cegamente que os modelos seriam capazes de entender o comportamento humano, quando há dinheiro e fortes instintos envolvidos.

Neste momento, me atrevo a dizer que a soberba – que está entre os sete pecados capitais – foi um dos grandes responsáveis pela derrocada do fundo. Que fique como lição, estamos falando sobre humildade para navegar no mercado financeiro.

No início do novo milênio, tivemos o estouro da bolha de internet. Investidores e empresários estavam otimistas com o setor. A fusão entre AOL e Time Warner foi considerada o maior e mais caro negócio da história. Todavia, depois de algum tempo, revelou-se um dos maiores fiascos do mundo financeiro.

O que deu errado? O aumento das taxas de juros americana.

Entre 1999 e 2000, o FED alterou a taxa seis vezes. Muitas empresas foram criadas na expectativa de que dariam certo, mas faltou planejamento. Se envolveram em fraudes e até forjaram indicadores contábeis para atrair investimentos. 

Assim, como em toda a bolha, um dia os investidores perceberam que as ações cresciam sem fundamento. Houve um enorme volume de vendas e, consequentemente, pânico generalizado.  No final de 2001, a Nasdaq teve uma desvalorização de 76%.

Em 2008, a Crise do Subprime, ou bolha imobiliária americana, teve início a partir da queda do índice Dow Jones, em 2007, encorajada pela possibilidade de colapso hipotecário, comprometendo diversas instituições americanas para um status de insolvência. 

Na ocasião, os subprimes mortgage – ou empréstimos hipotecários podres – foram concedidos de forma irresponsável, pois apostavam na subida constante do valor dos imóveis. Usando a engenharia financeira, os créditos foram transferidos para investidores (contrapartes) por meio da emissão de CDS (Credit Default Swap) e CDO (Collateralized Debt Obligation) e endossados pelas agências de Rating, que classificaram os instrumentos como baixo risco.

Desta forma, os créditos foram transferidos para contrapartes em vários países, comprometendo a rentabilidade de investidores e de muitos fundos de pensão, tradicionalmente conservadores e que investiam em papéis de baixa volatilidade.

Quando o preço dos imóveis derreteu, a bolha estourou. O dia 15 de setembro de 2008, quando um dos maiores bancos dos Estados Unidos declarou falência, foi considerado o auge da crise. O sistema financeiro mundial ficou em suspense e o FED teve que injetar aproximadamente USD850 bilhões para estabilizar o sistema.

Na sequência, a crise do Subprime expôs outra grande fraude, a engenharia financeira criada por Bernard Madoff, que prejudicou dezenas de milhares de pessoas em um prejuízo que atingiu aproximadamente USD 65 bilhões. Um pouco depois, em 2009, ele confessou sua culpa no esquema que, segundo as investigações, iniciou na década de 70 e fraudou aproximadamente 37 mil pessoas, em 136 países, por quase quatro décadas.

Este foi um dos maiores e mais longevos esquemas de pirâmide da história. A estratégia era manter segredo sobre os retornos constantes e consistentes, muitas vezes recusava alguns investidores e criava uma “aura” de que os investidores aceitos eram privilegiados por investir no fundo administrado por ele.

De acordo com a investigação, durante anos Madoff não executou uma única ordem de negociação. O que ele fazia era depositar os fundos dos investidores em uma conta bancária, usando o dinheiro de novos clientes para pagar os antigos, um clássico esquema de pirâmide.  Com a crise de liquidez no mercado americano, houve muitos pedidos de saque e não havia recursos para todos, expondo assim todo o esquema.

As crises comentadas são casos clássicos de falta de vigilância dos órgãos reguladores e dos atores do mercado, tanto provedores de crédito como investidores.

A cada crise, o sistema é aperfeiçoado para evitar novos eventos. Entretanto, as engenhosidades criadas por alguns participantes do sistema seduzem os incautos, que também deveriam olhar para o passado, e entender algo muito simples:

O fato é: não existe milagre. Ganhos acima da média do mercado geralmente refletem negócios “não cartesianos” e, em algum momento, geram prejuízos.  Alguns investidores são movidos por um dos mais perniciosos instintos do ser humano “a ganância” e são atraídos por promessa de ganho fácil e rápido.

Gosto da máxima “there is no such thing as a free lunch” ou não tem almoço grátis.

Para encerrar, me permita um alerta de quem atua e acompanha com atenção este mercado há mais de 30 anos: dedique um olhar à história, pois os ciclos se repetem.

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