A recente regulamentação das apostas esportivas no Brasil trouxe à tona uma discussão que, embora urgente, tem sido pouco explorada: o impacto devastador dessa prática no orçamento familiar e na economia do país. Ao observarmos a rápida popularização das apostas, fica evidente que o brasileiro médio, já carente de educação financeira, está sendo arrastado para um ciclo perigoso de promessas vazias e prejuízos financeiros.
Estudos comparativos mostram que os ganhos nas apostas esportivas podem desencadear respostas cerebrais semelhantes às provocadas pelo consumo de cocaína, criando uma euforia momentânea que, em muitos casos, leva à compulsão. Esse efeito é particularmente preocupante em um cenário onde a falta de preparo financeiro é predominante, tornando o ambiente perfeito para que as apostas se tornem um vício destrutivo, ao invés de uma mera forma de entretenimento.
No tempo em que atuei como advogado, me deparei com diversos casos de destruição de patrimônio causados por apostas. A família do viciado me procurava para tentar reaver o patrimônio que o parente havia perdido no jogo. Na maioria dos casos, o apostador, iludido pela esperança de ganhos fáceis, acabava sacrificando o patrimônio da família em apostas. É provável que você conheça ou já tenha ouvido falar de alguém que “perdeu tudo no jogo”.
Com a regulamentação, é esperado um aumento exponencial desses casos, agravando ainda mais a crise financeira que muitas famílias brasileiras já enfrentam. Sobre as ações judiciais, nenhuma vingou. As casas de apostas têm uma complexa estrutura societária que visa esconder o beneficiário final do lucro das apostas em paraísos fiscais: o dinheiro nem fica no Brasil e não é possível reavê-lo. Sabe o que sobra para o apostador? Apenas a destruição do patrimônio mais valioso construído ao longa da vida: a família.
Um estudo recente do Itaú, citado em um artigo que li no Brazil Journal, revela que já há mais pessoas apostando do que investindo no Brasil. Isso é um claro reflexo da falta de educação financeira da população, que, em vez de buscar formas seguras e sustentáveis de crescer seu patrimônio, opta por arriscar o que tem em jogos de azar. A longo prazo, essa tendência pode ter consequências devastadoras para a economia nacional, minando a capacidade de poupança e investimento do cidadão comum. A aposta esportiva de um único objetivo: transferir o patrimônio do apostador para a casa de apostas.
Na minha leiga avaliação, a liberação das apostas esportivas foi precoce pela falta de políticas públicas de educação financeira. É imprescindível que o governo e as instituições financeiras invistam em campanhas de conscientização e educação financeira, para que a população entenda o poder e a necessidade da poupança e opte por caminhos mais seguros e construtivos.
O desafio que se impõe é enorme: como equilibrar a liberdade de escolha do indivíduo com a necessidade de proteger o bem-estar social? Essa discussão parece se assemelhar aos recentes debates sobre a liberação do consumo de drogas. Assim como naquele debate, aqui a resposta pode estar em políticas públicas mais robustas, que não só regulamentem, mas também limitem o alcance e eduquem a sociedade, evitando que se tornem uma armadilha para os menos preparados.
Por fim, é crucial entender que não existe ganho fácil. O sonho de acertar na loteria, ganhar dinheiro do dia pra noite, é probabilisticamente irrisório. A verdadeira riqueza está na construção consciente e informada do patrimônio, e não em apostas que, na maioria das vezes, só trazem desilusão e prejuízo.