Você saberia reconhecer um golpe se ele estivesse à sua frente?
Hoje, com um clique, entregamos nossos dados, nosso dinheiro e, principalmente, nossa confiança — sem sequer perceber. Golpes modernos não têm mais cara de bandido: têm CNPJ falso, site profissional, atendimento simpático e promessas feitas sob medida para o que você precisa ouvir.
No dicionário, a palavra golpe tem múltiplos significados. Pode representar uma pancada violenta, uma manobra política, um movimento técnico de artes marciais ou, de forma figurada, uma desgraça repentina. Neste artigo, vamos explorar esse último sentido — um estratagema fraudulento, arquitetado para enganar alguém.
Recentemente, um amigo que trabalha como vendedor em uma tradicional empresa da cidade compartilhou um episódio que diz muito sobre os tempos em que vivemos. Por respeito aos envolvidos, não citarei nomes nem detalhes do produto negociado.
Ele sempre atendeu determinado cliente com zelo e compromisso. Em diversas situações, se desdobrou para entregar pedidos urgentes, resolver imprevistos e manter um relacionamento pautado na confiança. Até que, em mais uma solicitação, o cliente pediu um orçamento com prazo apertado. O vendedor não conseguiria entregar exatamente na data solicitada, mas se comprometeu a fazer a entrega no dia seguinte. Pediu, com toda honestidade, que o cliente considerasse o histórico da parceria construída.
O cliente agradeceu e então fez diferente.
Buscou o produto na internet e encontrou, logo no primeiro link, um site promissor, que oferecia o item desejado por um preço menor e entrega imediata. Sem hesitar, fez o pagamento à vista via PIX.
No dia da entrega, nada chegou.
Foi então que ele percebeu: havia caído em um golpe. O site usava o nome e a logomarca de uma empresa real, mas o atendimento era operado por golpistas. Ao clicar em “Fale Conosco”, a conversa era direcionada para um número de WhatsApp falso, disfarçado de serviço legítimo.
Desesperado, o cliente recorreu à empresa de sempre. Mas como ajudar alguém agora descapitalizado, que preferiu economizar alguns reais em troca de um risco não calculado?
Essa história poderia ser apenas um caso isolado. Mas não é.
Há muito tempo que os criminosos investem em tráfego pago, páginas bem estruturadas, linguagem persuasiva e até centrais de atendimento falsas para atrair vítimas. O golpe vem embrulhado em aparência profissional e eficiência digital.
Se toda essa inteligência fosse aplicada para o bem, talvez estaríamos falando de empreendedores de sucesso. Mas, infelizmente, o talento de muitos tem sido canalizado para enganar.
O que mais chama atenção nesse caso é a facilidade com que se rompe uma relação de confiança em nome de um clique mais rápido, alguns reais a menos ou a ilusão da “melhor oferta”.
Golpes modernos não acontecem apenas porque há criminosos engenhosos. Eles acontecem, principalmente, porque há pressa, desatenção e uma crescente desvalorização do que é construído com proximidade, transparência e confiança mútua.
Vivemos em um mundo onde tudo é imediato, inclusive o arrependimento. Mas ainda é possível escolher com quem e como se relacionar — profissionalmente, comercialmente, humanamente.
Se você chegou até aqui, caro leitor, agradeço a sua atenção, mas sinto informar: você também caiu em um golpe.
Este artigo não foi escrito por quem habitualmente assina nesta coluna, mas por um amigo que ouviu essa história e, de certa forma, também foi personagem dela. Ele contou com a ajuda da inteligência artificial — não para enganar, mas para contribuir com a revisão da redação.
Obrigado pelo teu relato e contribuição, Mauro da Silva Junior.
Essa experiência vai além da perda financeira, porque expõe a fragilidade da confiança quando colocada à prova. Ela mostra como, em meio à pressa e à tentação de uma suposta vantagem imediata, podemos abrir mão do que realmente sustenta nossas relações — a proximidade, o cuidado que se tem no dia a dia, a clareza na forma de agir e a lealdade construída passo a passo. Esses pilares não se formam de uma hora para outra; exigem tempo, dedicação e presença e justamente por isso, quando são esquecidos ou negligenciados, correm o risco de ruir em segundos.