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Mesmo fazendo tudo certinho, você ainda pode ser demitido

Foto: divulgação

Sabe aquele friozinho na barriga domingo à noite antes de iniciar mais uma semana no trabalho? 

Sabe aquela sensação desconfortável quando a reunião individual com o chefe tem apenas o título de “feedback” e nada mais no corpo no invite?

Sabe quando o burburinho de layoff se espalha e você não sabe se fará parte da próxima lista de desligados?

Demissões em massa, aliás, têm sido cada vez mais divulgadas nos portais especializados e virando pauta nos corredores como nunca antes. Em 2024, 14% do quadro de funcionários da Pixar (Grupo Disney) foram desligados; em 2023, a Zoom demitiu 1.300 colaboradores; e a Dell, outra gigante da tecnologia, demitiu cerca de 12 mil profissionais um ano depois.

Mas o que fica, mesmo que momentaneamente, é a última impressão. E quando esses movimentos acontecem, não há como negar tamanha frustração.

Essas e outras sensações são angustiantes. Todas elas podem, em certo grau, precederem uma demissão não prevista ou subestimada. Não prevista pois você não deva ter razões para temer uma demissão; subestimada pois, às vezes, há um acúmulo de situações que podem justificar a sua demissão — mesmo que você não concorde.

E vou te dizer, não desejo isso a ninguém, acredite, mas você poderá passar por algum momento assim na sua carreira. 

Eu, inclusive, já tive essa experiência. Sim, foi dolorido pois é algo que poucos gostam de sentir e comigo não foi diferente. Assim como, processei tudo a respeito e não levei como um luto mais do que deveria. Vida seguiu e aqui estou. 

Assim como eu, a maioria das pessoas parte para um ciclo de busca por novas oportunidades. Essa atitude pode ser, tanto esperançosa quanto frustrante.

Ficar atirando currículos por aí para qualquer vaga que estiver minimamente ligada a sua expertise, pode parecer uma boa ideia mas também ser algo ineficiente.

Definir um alvo seria o primeiro passo: se você quer seguir em uma área técnica, o seu CV deve corresponder a tal. Assim como para oportunidades de gestão. O mesmo CV, não necessariamente, servirá para ambas as situações.

Além disso, usar a rede de relacionamento é um ótimo meio de encontrar uma oportunidade rapidamente. Não é uma regra, mas pode ajudar.

Com o envio dos currículos e as conexões da sua rede de relacionamento, as primeiras entrevistas começam a surgir. 

Porém, o que mais pode te preocupar, entre outras coisas, é responder a seguinte pergunta: quais foram as suas entregas mais relevantes e como você poderia explicar os resultados alcançados?

E se você trabalha em uma empresa que logo tira todo o acesso das informações a partir do anúncio do seu desligamento, responder essa pergunta se torna ainda mais difícil.

Por isso, mesmo que você faça tudo certinho, alinhado às expectativas daqueles que te supervisionam, um desligamento pode acontecer e todo o registro do que você realizou, ficará para trás.

Como contar uma história das entregas antes de ser demitido

Antes de mais nada, é importante ressaltar que não há uma receita única que atenderá a todos(as) as pessoas que passam por esses momentos.

Fatores como uma reserva financeira assim como o apoio de amigos e familiares nem sempre são realidades para muitas pessoas. E quando a necessidade bate, é natural que as pessoas se sintam desestabilizadas.

E no intuito de evitar que esse momento seja mais complicado do que ele já é, sugiro fazer da internet a sua maior aliada para contar a sua história profissional.

Compartilhar o que você vem fazendo na sua organização, por meio de publicações em redes sociais, como o LinkedIn, pode ser uma boa forma de traduzir os seus aprendizados na organização.

Sim, o LinkeDisney também existe e é importante separar o joio do trigo. Há quem faça de uma simples e rotineira reunião de alinhamento como uma ação de conexão e relacionamento de stakeholders capaz de gerar 5 aprendizados, 3 next steps e uma frase de impacto de um autor desconhecido. 

Calma, não vá por esse caminho.

A publicação, em sua maioria, deve seguir uma estrutura prática e que seja possível alguém de fora entender o que está acontecendo. Um início, meio e fim bem escrito.

O que você vem entregando? Como tem gerado valor na organização? São novos projetos? Diferentes produtos e serviços? Uma inovação que reduz custos? Uma implementação que aumenta a receita?

Todas essas perguntas são ingredientes para boa história online.

Assim como a publicação de conteúdos mais técnicos ou, por que não, teóricos, com um tom opinativo, analisando cenários e dilemas do seu contexto profissional.

O que eu tenho feito

Eu, por exemplo, faço isso há um bom tempo. 

Desde 2015, eu escrevo para a plataforma Medium, diferentes artigos relacionados ao meu momento profissional. O objetivo é criar uma referência técnica a respeito do que eu faço e compartilhar conhecimento com as pessoas que me seguem. 

Em 2020, em meio à pandemia, também comecei a gravar podcasts seguindo a mesma ideia. No início, abordava assuntos mais pessoais e de interesse que iam além do profissional; a partir de certo ponto, comecei a mergulhar nas pautas ligadas a minha carreira em definitivo.

Tanto a escrito de artigos quanto a publicação de podcasts me permitiram encontrar novas oportunidades de exposição, como o portal Economia SC, onde possuo uma coluna na qual reúne artigos como este que você está lendo.

E mais recentemente, tenho a minha empresa chamada Entre Aspas, focada em desenvolvimento de novas lideranças. O nome não é por acaso: quando abrimos aspas, damos voz a alguém. No Instagram da minha marca, eu compartilho vídeos e artigos para a minha rede. 

No final das contas, a sensação ruim de ser demitido(a) pode ser amenizada com o seu histórico profissional sendo compartilhado regularmente na internet. 

Não quero dizer que isso definirá se você é um bom ou mal profissional. Pode ser que os registros realizados sejam mantidos nos seus próprios controles ao invés de serem compartilhados. 

Por um lado, você mantém uma discrição e ainda salva as informações nas quais representam as suas marcas dentro da empresa; por outro lado, headhunters, novos parceiros comerciais e possíveis clientes podem deixar de conhecer os seus feitos e isso esconder futuras oportunidades.

A minha principal mensagem aqui já está clara. Não deixe a necessidade de se promover e organizar o seu portfólio pessoal surgirem apenas quando a necessidade pegar você de surpresa — numa ligação online, em um e-mail do RH ou em uma conversa na salinha 3×3.

Empregos vem e vão. Por mais que você faça tudo certinho, nada impede do seu último dia chegar. 

Mas, acima de tudo, essa difícil etapa da carreira profissional não precisa ser enfrentada no escuro ou com informações subjetivas. 

Tudo está na capacidade de você contar uma boa, e verdadeira, história para os outros.

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Sócio na Entre Aspas – Gente & Gestão

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