Pesquisar

O que faz um ecossistema de inovação dar certo

Foto: divulgação

Por Betina Zanetti Ramos, vice-presidente de Relacionamento da ACATE.

Quando falamos em inovação, é comum pensar em tecnologia de ponta, startups disruptivas e ideias visionárias. No entanto, por trás de tudo isso há uma engrenagem muito mais complexa: os ecossistemas de inovação. Eles são formados por uma rede de atores que se conectam, compartilham recursos e trabalham em conjunto para promover o desenvolvimento sustentável de um território. E essa colaboração não é espontânea: ela precisa ser construída, cultivada e constantemente reforçada.

Um ecossistema de tecnologia que funciona de forma integrada depende, antes de tudo, de uma governança colaborativa. É necessário estabelecer uma estrutura clara que envolva os diferentes atores, com papéis e responsabilidades bem definidos. Quando há alinhamento entre os participantes, as decisões são mais estratégicas, os recursos são melhor aproveitados e as iniciativas ganham escala e impacto.

Além disso, é imprescindível fomentar uma cultura de cooperação e confiança. Sem confiança, não há colaboração verdadeira. Os atores (empresas, universidades, órgãos públicos, investidores, mentores e organizações da sociedade civil) precisam trabalhar juntos, de forma aberta, compartilhando experiências, desafios e conquistas. Isso fortalece o senso de pertencimento e o comprometimento coletivo com os resultados.

Um dos principais desafios enfrentados por muitos ecossistemas ainda é a falta de conectividade e comunicação eficiente. A ausência de canais ativos de diálogo entre empresas, instituições de ensino, governo e sociedade civil gera ruídos, sobreposição de esforços e oportunidades perdidas. Esse é um ponto sensível que deve ser enfrentado com urgência: integrar é comunicar, ouvir e construir pontes constantemente.

Também é fundamental garantir a existência de um ambiente propício à inovação. Isso envolve tanto espaços físicos — como incubadoras, hubs de inovação, coworkings — quanto digitais, onde novas ideias possam ser testadas, prototipadas e lançadas no mercado com apoio técnico e institucional. A inovação nasce do encontro entre ideias e oportunidades, e esse encontro precisa ser estimulado com intencionalidade.

Outro pilar essencial é o capital humano qualificado. Um ecossistema forte precisa de talentos preparados. Para isso, é indispensável contar com instituições de ensino de qualidade, programas de capacitação contínua e currículos acadêmicos alinhados às demandas reais do mercado. A formação técnica precisa caminhar junto com o incentivo à mentalidade empreendedora e à visão global  — e isso começa ainda na graduação, com vivências práticas, estímulo à criação de negócios e inserção internacional desde cedo. Mas, foi-se o tempo em que ter um bom curriculum garantia uma boa colocação profissional. Em meio ao avanço acelerado da inteligência artificial,  aquele que souber resgatar a essência do ser humano com seus valores,  virtudes e soft skills terá certamente um futuro mais promissor.

Nada disso avança sem acesso à capital. Investidores anjo, fundos de venture capital, editais públicos e mecanismos de fomento são o combustível que impulsiona as startups e empresas inovadoras a crescer. É necessário democratizar o acesso a esses recursos e garantir que boas ideias não fiquem pelo caminho por falta de apoio financeiro.

No cenário internacional, temos muito a aprender. O Vale do Silício, nos Estados Unidos, nos ensina sobre a importância da cultura de risco e da presença ativa de capital de investimento. Tel Aviv, em Israel, mostra como a integração entre startups e universidades pode gerar tecnologias de ponta. Medellín, na Colômbia, é exemplo de como políticas públicas e inovação podem transformar um território por completo. Barcelona avança com seu modelo de cidade inteligente, enquanto a Estônia nos impressiona com a digitalização total dos serviços públicos como motor do crescimento do setor tech. No Brasil, além da ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) podemos citar hubs como o Instituto Caldeira, Cubo, Porto Digital, Inovabra, Tecnopuc, Distrito, entre outros.

Em Santa Catarina, temos um caso emblemático de articulação do ecossistema que resultou em um dos maiores crescimentos no faturamento e número de empresas de tecnologia em todo o Brasil, além do resultado visto em Florianópolis de maior participação do setor no PIB entre todas as capitais. A ACATE tem desempenhado um papel de liderança e conexão, atuando como elo central entre empresas, universidades, governo e iniciativas locais. Por meio das Verticais de Negócios, conseguimos segmentar as ações por setor atingindo áreas como Agtech, Construtech, Educação, Energia, Fintech, Manufatura 4.0, Peopletech, Saúde, Security Tech, Smart Cities e Varejo, promovendo maior sinergia entre empresas que enfrentam desafios semelhantes.

É relevante destacar também que, além das Verticais, divisões existentes nos chamados Grupos Temáticos ajudam a integrar o ecossistema em outras características multifacetadas: o Mulheres ACATE  e o grupo de internacionalização, um com foco em incentivar o empreendedorismo feminino na área tech e, o outro, ampliar as oportunidades de negócios no exterior — inclusive com a criação de uma unidade ACATE no Canadá.

Nossos programas como o MIDITEC e o LinkLab, são referências nacionais e internacionais. O MIDITEC é um dos programas de incubação mais reconhecidos do país, sendo premiado como Top 5 Global por três  vezes pela UBI Global. Já o LinkLab promove inovação aberta ao conectar grandes empresas e instituições públicas com startups em estágios diversos. Esses ambientes aceleram o desenvolvimento de soluções, promovem intercâmbio entre empresas consolidadas e novas, e fortalecem a cultura de inovação.

A educação e formação de talentos também estão no centro das ações. Em parceria com instituições locais, desenvolvemos iniciativas que não apenas fortalecem o setor de tecnologia, mas também promovem oportunidades profissionais concretas para os cidadãos catarinenses. Essa abordagem de desenvolvimento com impacto social é um diferencial importante do modelo.

Por fim, um ponto fundamental: ecossistemas não funcionam sem lideranças engajadas e inspiradoras. São elas que conectam os diferentes elos da rede, que orquestram os esforços coletivos, que representam o setor frente ao governo e aos investidores, e que promovem a cultura de compartilhamento. Também são as responsáveis por garantir que o ecossistema tenha uma visão de longo prazo, com objetivos comuns e sustentáveis.

Construir um ecossistema não é apenas fomentar startups. É criar uma base sólida de colaboração, formação de talentos, acesso a capital, infraestrutura, políticas públicas e cultura. É entender que a inovação nasce das conexões — e que essas conexões, quando bem cuidadas, têm o poder de transformar realidades inteiras e gerar grandes legados para a sociedade.

Compartilhe

Tudo sobre economia, negócios, inovação, carreiras e ESG em Santa Catarina.

Leia também