Partículas do coronavírus foram encontradas em duas amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019, dois meses antes do primeiro caso clínico ser relatado no Brasil.
A descoberta é descrita na pesquisa SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019, de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade de Burgos (Espanha) e da startup BiomeHub.
A professora da UFSC, Gislaine Fongaro, explica que amostras de esgoto do final de outubro até o início de março foram analisadas:
“Acessamos amostras congeladas do esgoto bruto para investigar o material como ferramenta epidemiológica”.
Até agora, é o relato da primeira presença confirmada do vírus na América.
A pesquisadora lembra que estudos semelhantes encontraram o vírusno esgoto de Wuhan, na China, em outubro, e na Itália no início de dezembro, antes do vírus ser descrito em 31 de dezembro de 2019.
A carga constatada em 27 de novembro foi baixa: 100 mil cópias de genoma do vírus por litro.
Depois disso, novas amostras deram positivo em doses mais elevadas em 11 de dezembro e 20 de fevereiro, até que em 4 de março a carga do vírus chegou a 1 milhão de cópias de genoma por litro de esgoto.
“As pessoas não precisam ficar apavoradas com contaminação. O esgoto só é uma representatividade do que já tem na população”, destaca.
Ela pondera que as pessoas podem ou não ter ficado doentes neste período, e ter atribuído algum sintoma a outras doenças.
Em 30 de outubro e 6 de novembro, as amostras não apresentaram traço do vírus.
A descoberta só foi possível porque pôde acessar amostras que já eram coletadas por outros estudos.
“É um grande momento para a gente pensar como o esgoto da população serve para programas sentinelas. Muito antes de aparecer casos clínicos, o vírus estava circulando. É possível fazer análises de risco e antecipar os cuidados necessários com a população, como, por exemplo, a hora de dar uma diminuída nas atividades”, finaliza.