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Ser empreendedora é ser você mesma!

Hoje, 19 de novembro, é celebrado o dia do Empreendedorismo Feminino! A iniciativa foi lançada pela Organização das Nações Unidas em 2014 e tem como principal objetivo incentivar mais mulheres a abrirem seus próprios negócios.

Eu empreendo há quase 5 anos e a verdade é que haja resiliência para sobreviver num mercado tão instável quanto o de startups. Uma montanha-russa emocional e financeira, mas hoje sei, definitivamente, que sempre tive uma alma inquieta e mais criativa, voltada para à inovação. 

Começo esse texto referenciando uma grande empreendedora que me inspirou por toda a vida, a minha avó materna, Gercina Pereira Dias. Aos 31 anos ela ficou viúva e sozinha buscou caminhos para cuidar de seus 6 filhos pequenos. O que ela fez? Pegou a proatividade, colocou-a na mala e mudou para a capital paulista. 

Comunicadora nata, destemida e de uma criatividade absurda, foi do artesanato à confecção de roupas. Construiu a própria casa e anos mais tarde, em 1986, uma escola infantil popular, um sonho que foi realizado por cerca de 30 anos. Foi com essa mulher que tive a imensa honra de passar os meus primeiros anos de vida e claramente essa vivência repercutiu mais tarde na minha personalidade. 

CARREIRA E EMPREENDEDORISMO

Já trabalhei em empresas do setor público e privado, de diferentes tamanhos e setores e já vi de perto o assédio moral e sexual de muitas mulheres (a imensa maioria já passou pelo menos uma vez por esta experiência). E os assédios não são somente por parte dos homens, mas também das próprias mulheres.

Uma vez lembro que uma liderança (mulher) me pediu para que eu “pensasse como um homem” e me “adequasse às vestimentas” da corporação: era necessário usar roupas formais em tom X e Y, nada estampado e sapatos das marcas indicadas.

Ela, no entanto, apesar de se sentir no direito de impor esses detalhes tão pessoais, havia deixado de ser ela mesma para chegar no “topo”. Existe uma baita diferença entre gerar lucro para uma empresa e realizar os caprichos da chefe, deixando de lado à própria personalidade. Eu optei por ser quem sou.

Sempre fui apaixonada pela comunicação, por tecnologia e por novos desafios. Por que não empreender? Mas e se não der certo? E se, e se, e se?

Tive inclusive um relacionamento que me colocou na parede: “ou eu ou a empresa”. Toda escolha implica perda e eu optei pela segunda opção, disposta a lidar com as instabilidades no bolso e a enfrentar um ambiente majoritariamente masculino.

INVESTIMENTO DESIGUAL

Sempre me interessei pelo ecossistema empreendedor e de novas tecnologias, mas os homens ainda dominam boa parte do mercado. 

Apesar de estarmos conquistando lugares que antes não existiam para nós, ainda hoje somente 30% de todos os negócios privados do mundo são operados ou têm como idealizador uma mulher e menos de 10% das empresas lideradas por mulheres recebe investimento externo.

Por outro lado, um estudo recente da The Boston Consulting Group (BCG), revela que apesar de menos investimentos, faturamos mais em nossos negócios.

Segundo a pesquisa, para cada dólar de financiamento, as startups com mulheres fundadoras geraram 78 centavos, enquanto as fundadas por homens renderam menos da metade disso.

Em termos globais, o ano passado tivemos o melhor período da história para fundadoras pelo mundo. Em 2018, havia 15 unicórnios (empresas com valuation de 1 bilhão) com ao menos uma cofundadora à frente do negócio. Já no último ano, foram 21 startups lideradas por mulheres que atingiram o status de unicórnio. As informações são da base de dados americana Crunchbase.

ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO: QUAL O NOSSO PAPEL?

A minha previsão é que veremos cada vez mais mulheres ganhando destaque no mercado, ao mesmo tempo tenho visto também mais homens deixando de lado o machismo enraizado de gerações.

O principal desafio é superar os estereótipos sobre a capacidade e o papel das mulheres em diferentes esferas da sociedade e como incentivá-las a assumirem papéis de liderança para diminuir algumas das desigualdades sistêmicas no mercado.

Não teremos qualquer avanço enquanto esperarmos que as mulheres deixem o trabalho ao ter filhos, se fizerem isso por obrigação e não por escolha. Ou se aceitarmos que elas optem por um emprego ruim e mal remunerado para conciliar a vida profissional com os cuidados da casa. Há muito que avançar por parte das empresas, das leis e da própria sociedade como um todo. Precisamos nos unir mais para abrirmos juntas novas “portas” e possibilidades.

Esses últimos anos como empreendedora valeram muito mais que muitos MBA´s ou pós-graduações. Hoje vejo que é possível ser empreendedora, sem mudar seu jeito de ser, sem negar a própria feminilidade, sem a pressão absurda de se ajustar a determinado padrão. 

Uma vez ouvi dizer que “se a pessoa não pode ser ela mesma no ambiente de trabalho, ela não dará tudo de si”. Ser empreendedora é ser você mesmo, é dar tudo de si e acreditar no seu potencial e no seu talento. Afinal, é quando passamos a gostar de nós mesmas que atingimos a coragem de não tolerar desaforos.

Sigo empreendendo na área da comunicação, sou colunista de tecnologia e tenho um espaço exclusivo no Gene PME para dar voz às mulheres do ecossistema de startups. Também apoio projeto de jovens e mulheres na tecnologia. 

Dedico esse texto à minha avó, mencionada no início desse texto, uma das vítimas fatais pela coronavírus e a maior matriarca e empreendedora que conheci em toda a minha vida. Como dizia Simone de Beauvoir, “Que nada nos limite. Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância”.

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Jornalista do ecossistema de startups

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