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2 Aprendizados sobre estratégia com Pep Guardiola

Eu gosto muito de acompanhar o futebol, sabe? Sou torcedor do Flamengo, sempre acompanho seus jogos e busco entender um pouco das análises sobre a atuação do time e, principalmente, do contexto que uma equipe de futebol é envolvida, estratégia, liderança, política e assim por diante.

Indo nessa linha, cheguei até esse livro aqui: Guardiola Confidencial, do jornalista catalão Martí Perarnau.

Pep Guardiola no tempo que comandava o Bayern de Munique (Photo by Octavio Passos/Getty Images)

O livro basicamente traz os relatos do jornalista que acompanhou um ano inteiro do técnico na sua primeira temporada no Bayern de Munique no ano de 2013/14. Depois do seu grande sucesso a frente do Barcelona nas últimas 5 temporadas, a chegada de Pep ao time bávaro foi como a vinda de um grande popstar.

O que me chamou mais a atenção nesse livro foi que ele traz o futebol como contexto trazendo aí uma série de bons insights para a liderança e estratégia de time.

E nesse sentido, listei 2 aprendizados que ele traz logo no seu primeiro ano de trabalho e como eu os vejo aplicados na minha experiência como liderança na empresa:

  1. Espaço para novos conceitos e técnicas
  2. Sobre intensidade, posicionamentos táticos e posicionais

Sobre espaços para novos conceitos e técnicas

Após ganhar praticamente todos os títulos que disputou em anos diferentes, sendo que na primeira temporada foram logo seis títulos, seguidos de outros 14 dos 19 possíveis nos 4 anos seguintes.

Com tudo isso no currículo, Pep se viu obrigado a recuar e buscar por um momento de descanso. Optou por tirar um ano sabático e não trabalhar em nada que houvesse futebol.

Até que, no final desse ano de descanso, rumores sobre o seu destino começaram a se intensificar e, entre diferentes propostas que chegavam à sua mesa (Chelsea, City, Milan…), uma em especial foi a escolhida: treinar o Bayern de Munique.

O Bayern de Munique de 2012-13 era treinado pelo ex-jogador alemão Jupp Heynckes, justamente o seu último ano antes de optar por sua saída.

Essa temporada, em especial, trouxe incríveis resultados para a história do clube: simplesmente venceu a Bundesliga, a Champions League, a Supercopa da Alemanha e a Copa da Alemanha.

Mexer em time que tá ganhando? Para Guardiola, essa frase não quer dizer muita coisa. E para dar um segundo passo nesse período vitorioso do time, ele apostou em novos conceitos e técnicas para o time ser ainda mais competitivo.

Se na filosofia de Heynckes, o conceito da manutenção da posse de bola foi transformado com mais velocidade, fazer gols sempre que possível e mudanças de ritmo, com Guardiola isso foi além: além da posse de bola e a sede por gols, vieram a alternância de posições, a circulação constante da bola e a movimentação contínua dos atletas.

Justamente a filosofia de jogo do Barcelona da temporada 10–11 que venceu tudo: conquistando nada menos que a Copa do Rei, o Campeonato Espanhol, a Supercopa da Espanha, a Liga dos Campeões da UEFA, a Supercopa Europeia e Copa do Mundo de Clubes da FIFA, na mesma temporada.

Trabalhar novos conceitos e técnicas traz a resposta à mudança como o comportamento essencial para o jogo. Porém, sabemos como qualquer tipo de mudança, por mais positiva que ela seja, pode ser difícil para muitas pessoas.

Como eu vejo isso na liderança de equipes na empresa?

Se você olhar para as suas competências, suas atitudes e comportamentos, você verá que entrega muito daquilo que precisa ser entregue. Aquele processo redondinho, alinhado com o histórico da organização, mantendo a excelência que caracteriza a sua função e deixando claro para todos que você faz porque simplesmente “sempre foi assim”.

Mas o quanto isso esta entregando o negócio da organização? O quanto aquilo que já dominamos e fazemos todos os anos ainda faz sentido para seguirmos investindo nosso orçamento? Qual é a versão 2.0 do seu trabalho que você poderá desenvolver neste ano?

Não é descaracterizar ou desvalorizar o que já está sendo feito. Até porque isso será mantido — até que se prove o contrário. O ponto é: como isso pode gerar ainda mais valor visando a sustentabilidade do negócio como um todo.

Trazer novos conceitos de gestão, novas formas de interpretar o que é feito, conectando com outras frentes de atuação que buscam o mesmo objetivo, gerando ainda mais inteligência final para o negócio, é parte fundamental para qualquer organização.

Quanto mais sairmos da nossa bolha de atuação, conversando com mais pessoas de forma pró-ativa (e não apenas repassando informações pré-definidas, como status ou report), deixaremos o nosso vocabulário e nossos argumentos ainda mais amadurecidos em prol do que buscamos como empresa.

E isso me leva ao segundo ponto: intensidade nos treinamentos.

Sobre intensidade, treinamentos táticos e posicionais

Pep Guardiola fez sua estreia no time principal do Barcelona, em 1991, vindo das categorias de base do clube. Ele era magro, franzino e lento, não possuía grandes qualidades defensivas e, por isso, costumava participar mais ativamente da criação do jogo de ataque.

Consciente de suas fraquezas, Guardiola se dedicou a aprimorar suas virtudes. Como não era veloz, fazia a bola correr mais rápido que todos; como não ganhava uma disputa física, decidiu enganar os rivais com seus passes; como não podia defender usando a força, defendia atacando.

Ou seja, enquanto jogador, já cultivava os valores do técnico que viria a se tornar: ante o temor de ser atacado, a estratégia era atacar, evitando o jogo de choques através do passe, fazendo a bola circular em velocidade.

E para isso tudo acontecer, é preciso treinar, e com intensidade.

Com a bola girando sempre muito rapidamente, isso obrigava o jogador a jogar e pensar rápido.

Ou seja, você já recebe a bola sabendo para onde irá tocar em seguida, antecipando o raciocínio do marcador e até quebrando a sua linha de defesa antes que ele perceba.

intensidade de treinos para chegar a esse nível de excelência é muito alta. Repetições de jogadas, análise do que foi realizado, muita conversa para ajustar os erros e mente aberta para aprender.

Tudo isso em meio a semanas de jogos importantes, viagens entre cidades e países, com diferentes rotinas para poder aperfeiçoar suas habilidades.

Além disso, tem ainda a variação de táticas e posições de jogo nesses treinamentos.

Guardiola vem da escola holandesa de futebol (falarei mais a frente sobre ela) que traz a rotação de posição e a posse de bola como premissas, além da pressão constante para atacar.

Logo, ele espera que seus jogadores não fiquem estáticos no gramado só esperando a bola no pé. Sua movimentação precisa ser constante. Se por um momento estou como atacante, em outro momento do jogo posso jogar mais aberto pelas pontas deixando algum meio-campista entrar como falso 9.

Essa era o plano de jogo nos tempos de Eto’o e Messi, quando o argentino chegava de trás como falso 9 quebrando a linha de zagueiros e marcando o gol, deixando a zaga adversária confusa sem saber quem marcar.

Como eu vejo isso na liderança de equipes na empresa?

Vejo a necessidade do nosso time não se prender a um papel ou função específico. Quando realizamos nossas tarefas de acordo com a descrição dos nossos próprios cargos, partimos do entendimento que não podemos nos limitar a ela.

O quanto uma estratégia de clima organizacional está identificando oportunidades de evolução das competências de liderança da nossa pipeline? E como essa estratégia está respondendo a geração de novas receitas na organização?

Quanto falamos de rotação, podemos entender que há uma cadeia de valor que entrega soluções para os nossos clientes finais. Entendendo essa cadeia de valor, estamos todos visando um mesmo objetivo final e não trabalhando como silos isolados, apenas repassando o bastão como se o nosso papel estivesse terminado ali.

Isso faz o aprendizado organizacional acontecer, permitindo que pessoas possam atuar em diferentes posições mesmo que não estejam diretamente descritas nas suas descrições de cargos, garantido minimamente que o objetivo organizacional seja alcançado.

E sobre a intensidade, eu vejo que muitos dos projetos que entregamos, das ações que realizamos e dos programas que são desenvolvidos, fazem parte de uma temporada de jogos como se fosse no futebol.

O que precisamos fazer entre esses grandes eventos e compromissos, é criar planos de treinamentos que possamos fortalecer novos conceitos, táticas e estratégias de jogo para o nosso time.

Quantas vezes paramos nossas agendas para falarmos sobre estratégia? Quando foi a última vez que você criou um espaço para o seu time falar da conexão das ações com a estratégia organizacional?

Sem esses ciclos de treinamento e intensidade, nossos times sempre entrarão em campo com o uniforme completo e com os seus vícios já conhecidos, como se fossem 11 jogadores correndo com uma bola sem muita organização. Só correndo atrás de um gol.

Concluindo: o futebol dos últimos 50 anos teve 3 grandes marcos

  1. O carrossel holandês de Cruyff com a seleção da Holanda em 1974.
  2. A era Sacchi, nos anos de 1980 com o Milan.
  3. E a era do Pep Guardiola como técnico do Barcelona.

A era da escola holandesa e o carrossel holandês da Copa de 74, com Rinus Mitchels e Johannes Cruyff. Cruyff, inclusive, colocou a Holanda de vez no mapa do futebol com a geração do tricampeonato do Ajax na Champions League: 1970, 1972 e 1973. Essa era foi marcada pela introdução de uma maneira nova de se jogar futebol, onde a troca de passes e a mudança de posições constante eram rápidas mesmo sem quebrar o esquema tático do time.

Michels e Cruyff após o título do Champions. FOTO: site do Ajax

A era Sacchi, no Milan. Um time com Ruud Gullit, Frank Rijkaard (que treinou o Barcelona de Ronaldinho, Eto’o e Messi) e Marco van Basten, todos remanescentes da escola holandesa da década de 70. O time ainda tinha Carlo Lancelotti (atual treinador do Real Madrid), Marco Baresi e a jovem promessa Paolo Maldini. A ideia era clara: usar a velocidade para atacar e pressionar alto os adversários.

Foto: Futebol na Veia.

E por fim, a era Pep — “o futebol de Guardiola”, principalmente na temporada 2010–11.

Com um futebol dominante e um time muito entrosado, a equipe passou a maior parte da temporada vencendo seus jogos de forma contuntende, muitas vezes sem dar chances aos adversários. No meio-campo, a trinca Busquets-Xavi-Iniesta controlava as partidas com absoluto controle da posse, além de rápida retomada quando perdia o controle. Por sua vez, no ataque, Lionel Messi seguia assombrando o mundo com seu futebol.

Time 2010–11. Foto: Divulgação/Barcelona.

Você pode não gostar de futebol e sequer ter ouvido falar de quem é Guardiola. Mas o seu legado é inquestionável e precisa ser estudado. Precisamos aprender com esses e outros exemplos de como a estratégia influencia diretamente na conquista de bons resultados.

Até porque, o aprendizado fica mas os desafios do mundo continuam. E isso fará Guardiola, eu e você renovarmos nossos valores sobre como fortalecer nossas competências de liderança até alcançarmos novos resultados.

É um ciclo de aprendizado contínuo. Cada fase representa um conjunto de aprendizados. Cabe a cada de um nós, de acordo com o que se identifica e tem mais interesse, saber aprender, compreender e aplicar sempre que possível.

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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