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A gestão de risco é olhar o elefante que habita a sua empresa

Foto: divulgação.

A assessoria de imprensa produziu mais uma release do último ano: as vendas cresceram e bateram resultados jamais vistos. Com o avanço em novos mercados, o resultado líquido da empresa foi 2x maior do que o mesmo período do ano passado. Satisfação e sentimento dever cumprido eram as mensagens a serem transmitidas.

Além do mais, a empresa sempre frequentou os rankings de melhores empresas para se trabalhar e precisava manter tal imagem.

Documento enviado e pronto. Os principais portais de notícias do mercado publicam o grande feito e toda a diretoria não poderia estar mais satisfeita.

De todos, o diretor comercial foi quem mais enalteceu a conquista. Além da satisfação do resultado em si, reconheceu todo o trabalho feito por suas equipes que, aliás, nunca trabalharam tanto por tal resultado.

Porém, há uma sombra sob essas equipes que ele não vê.

Nos últimos 6 meses, o número de horas-extras aumentou 120% e o número de casos de burnout dobrou comparado ao mesmo período do ano anterior.

Os sinais eram claros. As pessoas estavam exaustas, sentindo o peso dos últimos meses de trabalho. Tudo acabava comprometendo a relação interpessoal, impactando diretamente na satisfação e o engajamento interno.

O ambiente estava tóxico e altamente individualista, gerando mais competitividade a partir dos próprios interesses pessoais do que organizacionais. Havia muito mais sinais de politicagem do que cooperação.

A busca pela excelência nos resultados ultrapassava a ética e a moral que, inclusive, contrariavam os valores da organização.

Por fim, mesmo ciente, o Diretor estava cultivando um enorme e complexo problema no qual não estava querendo encarar em função do ótimo momento financeiro.

Um grande e complexo elefante na sala.

Elefante? Como assim?

O conceito é simples: muitas vezes, não queremos encarar o grande e complexo problema que nos ronda principalmente quando estamos na bonança dos bons resultados.

Evitamos tratar o problema escancarado pois não nos interessamos nos seus riscos, entendendo que as coisas são assim mesmo e que podem ser passageiras.

Isso se torna ainda mais pesado quando outras situações geram mais importância e prioridade do que tais elefantes.

Esse conceito é utilizado como uma metáfora para a gestão de riscos. Os riscos são tão óbvios que mesmo assim são negligenciados pela liderança pois não há percepção de impacto direto. E o pior: a própria liderança alimenta tais riscos quando esses não são gerenciados.

Ou seja: não só há elefantes na sala como também são nutridos pelo próprio ambiente.

No caso acima, a empresa vem gerando bons resultados financeiros mas não dá atenção ao clima e engajamento interno.

A força de trabalho sobrecarregada, frustrada com a altas cargas de trabalho, tendo baixo equilíbrio entre vida e trabalho, com problemas internos de relacionamento e constantes casos de burnout, se tornam problemas secundários perto da excitação da liderança pelo momento da empresa.

O que a liderança precisa fazer para não ignorar esses elefantes?

Primeiramente, aceitar que ele existe enquanto ele é um pequeno bebê. A partir do momento que aceitamos sua existência, é mais fácil de monitorar, principalmente por ele ainda ser um pequeno elefante.

É verdade que qualquer pessoa poderia tomar essa iniciativa (e tenho certeza que o seu analista de pessoas faz isso), mas é a liderança quem deveria puxar a situação.

De forma imediata, garantir que o time tenha um ambiente seguro para tratar os problemas se torna o objetivo principal desse líder.

A disposição para a conversa e transparência são fundamentais para o tratamento desse problema.
Além disso, há outros sinais de que o elefante está nascendo e que a empresa precisa ficar atenta. Listei alguns aqui:

  • O alto volume de reuniões realizadas, com pouco espaço para vazão dos seus trabalhos durante a semana
  • A alta taxa de hora-extra ocupando espaço da sua vida pessoal
  • A baixa participação nos eventos internos
  • Baixo entendimento das expectativas geradas
  • Ausência nas conversas individuais com a liderança
  • Alto número de incidentes e retrabalhos
  • Alto custo operacional contabilizado
  • Aumento do turnover em determinadas áreas

A lista pode variar de acordo com cada momento organizacional, mas não foge muito disso. Certifique que a sua organização possui essas informações acessíveis para você.

Ter uma boa leitura desse cenário é fundamental para tratarmos o paciente e não o defunto. E esses são apenas alguns dos indicadores que podem sinalizar tal urgência.

Entre diferentes ferramentas disponíveis para o acompanhamento da satisfação interna até uma simples conversa recorrente com o seu time, a iniciativa da liderança é fundamental para identificar tais elefantes.

A alegria e a celebração de um bom resultado financeiro não podem ofuscar problemas na organização que são visíveis e extremamente nocivos, mesmo que silenciosos.

Numa boa gestão de riscos, um elefante grande e complexo sentado bem no meio da sala de reunião da sua empresa pode, sim, ser mitigado e amenizado antes que seja tarde demais.

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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