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Quando o PIX vira assunto de geopolítica

Foto: luzitanija/AdobeStock

Uma investigação comercial aberta pelos Estados Unidos contra o Brasil acendeu um alerta que ultrapassa as fronteiras da diplomacia e toca diretamente o setor de meios de pagamento. Entre as alegações do governo americano está a suposta promoção governamental do Pix como meio de pagamento preferencial, o que, segundo eles, comprometeria a competitividade de gigantes globais como Visa e Mastercard: empresas norte-americanas com presença dominante no sistema de cartões.

Essa crítica joga luz sobre um debate que já circula há anos no mercado: o Pix representa uma ameaça estrutural ao modelo tradicional de pagamentos com cartão? Afinal, assim como o cartão de crédito, o Pix é um arranjo de pagamento: com a diferença de ter sido criado e regulado pelo Banco Central do Brasil, com forte protagonismo estatal. Essa iniciativa pública rompeu barreiras tecnológicas, desintermediou a cadeia de pagamentos e reduziu custos para o consumidor e para os negócios.

Curiosamente, o argumento de que o Pix distorce a concorrência parece ignorar o próprio impacto positivo do sistema sobre a inclusão financeira, a inovação e a competição local. A crítica soa menos como uma defesa da concorrência e mais como uma tentativa de preservar a dominância de players estabelecidos, agora pressionados por um modelo mais ágil, barato e universal.

Mais do que uma questão técnica ou comercial, a pauta revela um desconforto geopolítico: o sucesso do Pix transformou o Brasil em referência global em pagamentos instantâneos, desafiando o domínio histórico de estruturas ancoradas em grandes corporações estrangeiras. O incômodo dos Estados Unidos é, na prática, um reconhecimento tácito do impacto transformador dessa inovação.

Mas há uma variável que continua sendo decisiva e que nenhuma disputa diplomática pode ignorar: a segurança. Em um cenário de golpes cada vez mais sofisticados e fraudes digitais em crescimento, vencer esse jogo não será apenas uma questão de preço ou eficiência, mas de confiança. Quem oferecer a maior garantia de proteção — seja governo ou iniciativa privada — tende a assumir a liderança no mercado global de pagamentos.

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Advogado e empreendedor

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