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Empodere-se: a startup que combate a violência contra a mulher, agora no ambiente digital

A luta pela igualdade entre homens e mulheres em diversos ambientes tem ganhado cada vez mais força devido ao trabalho e a luta por empoderamento das mulheres.

Mas em todos os aspectos, desde o residencial, passando pelo corporativo e até mesmo pelo político, é possível identificar diversos tipos de violência contra a mulher ainda hoje.

Um levantamento exclusivo da startup Empodere-se, feito com 2 mil boletins de ocorrência registrados nos últimos 5 anos, mapeou mais de 30 tipos de violência contra mulheres, e que podem ser categorizados em seis níveis.

“O que parece ser enraizado e naturalizado na sociedade é totalmente errado. Até mesmo o conceito de violência é mal interpretado: encostar e agredir fisicamente em uma mulher é uma das formas, porém pressões psicológicas, manipulação, chantagem e outros são estilos violentos de reprimir a mulher”, destaca Amanda Lemes, fundadora da startup.

A Empodere-se é a primeira startup brasileira a desenvolver uma metodologia de combate à violência contra a mulher por meio do ensino de defesa pessoal com foco não apenas em técnicas físicas e movimentos corporais.

A metodologia apresenta fluxos de autodefesa físicos e não-físicos para diversas situações de violência contra a mulher, desde as mais sutis até casos mais graves como violência sexual.

“Geralmente, quando se fala em violência contra à mulher, as políticas implementadas têm como foco a vítima e a violência física, isso é, o momento após a violência já cometida. Nós oferecemos às mulheres ferramentas que previnem ou combatem a violência antes de ela ser consumada, mudando a visão de que mulheres não são capazes de se defenderem”, conta a empresária.

Em sua experiência, ela é formada em direito e mestre em Políticas Públicas e Gestão, trabalhou na Delegacia da Mulher como Investigadora de Polícia durante 4 anos, realizando atendimento profissional àquelas que chegavam agredidas frente as mais diversas violências. Há três anos e meio, decidiu transformar sua experiência na startup.

O curso ministrado no ambiente digital conta com aulas que vão trazer um conceito ampliado de autodefesa, colocando exemplos de assédios morais, sexuais, relacionamentos abusivos, atos machistas no ambiente de trabalho, violência doméstica, racismo e muito mais.

Os princípios norteadores do curso são: segurança, liberdade de ir e vir, autoestima, igualdade de direitos, autonomia, expansão de potencialidades, legitimidade da defesa e autorreconhecimento.

“Em nossos cursos presenciais, trabalhamos fortemente esses conceitos para que eles ampliem a consciência corporal e psíquica das participantes. São pontos que merecem atenção e que devem ir além dos nossos grupos; por isso a ideia de colocá-los no modo online”, ressalta a executiva.

No modelo presencial, a startup já atendeu mais de 4 mil mulheres com seus ensinamentos sobre o empoderamento feminino em casa, relacionamentos, na rua, no transporte público e no ambiente corporativo.

No modelo digital, a startup teve uma participação relevante no Curso de Defesa Pessoal de Kyra Gracie, oito vezes campeã mundial de Jiu Jitsu, tratando o tema de relacionamento abusivo.

A trilha de aprendizagem possui mais de 14 aulas com duração média de 25 minutos.

Além da instrutora e sua experiência policial, acadêmica e como ativista, a equipe conta com outras especialistas em atendimento à mulheres vítimas de violência, artistas marciais, ativistas LGBTQI+, movimentos de mulheres e do combate ao racismo, psicóloga, equipe comercial, advogadas, designers e audiovisual.

Os módulos em vídeos apresentam  o contexto da violência contra mulher enraizada na cultura, passando por percepção de ambientes, controle emocional e estudo de casos, além do conjunto de técnicas de autodefesa física e não-física, princípios da defesa pessoal, dicas de segurança nos mais diversos ambientes e saídas de situações de violência que  vão desde pegada de braço até saídas de estupro.

Além disso, o curso oferece uma cartilha com dicas de segurança em PDF, um diário com 40 reflexões sobre os desafios das mulheres no dia-a-dia e certificação.

A metodologia denomina-se “defesa pessoal integrada”, pois integra diversas artes marciais para a elaboração de técnicas físicas simplificadas para que mulheres leigas em artes marciais possam aprender.

Além disso, trabalha a autodefesa de maneira ampla incluindo aspectos psicológicos, emocionais, verbais e jurídicos como forma de defesa pessoal.

“Nossa ideia é levar todo o apoio que temos nas aulas presenciais para o online. Não podemos deixar nenhum ponto para trás. Nós temos uma missão e tenho certeza que vamos conseguir cumpri-la num médio espaço de tempo: transformar a cultura do Brasil em uma forma de viver mais igualitária e livre de violências contra a mulher”, finaliza Amanda.

Lista abaixo dos 31 tipos de violência sofridos pela mulher no mundo contemporâneo:

Categoria 1 – Violência Doméstica e Familiar

  • Tipo 1 – Violência física. Exemplos: empurrões, tapas, socos, estrangulamento, puxões de cabelo, chutes, espancamento, facadas, uso de arma de fogo.
  • Tipo 2 – Violência Sexual. Exemplos: estupro marital através de ameaça, coerção, força física ou chantagens; estupro por outros familiares através de ameaça, coerção, força física ou chantagens.
  • Tipo 3 – Violência Psicológica. Exemplos: humilhações, xingamentos, destruição da autoestima e ameaças.
  • Tipo 4 – Violência Moral. Exemplos: falar mal da mulher para terceiros, exposição da vida particular, pornografia de vingança.
  • Tipo 5 – Violência patrimonial. Exemplos: destruição de bens, retenção de bens, retenção ou destruição de documentos, destruição de objetos de valor afetivo, controle financeiro contra a vontade da mulher.

Categoria 2 – Micro Violências

  • Tipo 6 – Gaslighting: Quando o agressor convence a vítima de que ela está fora de seu juízo racional perfeito a fim de manipular.
  • Tipo 7 – Bropriating: Quando a agressor se apropria das ideias da vítima para trazer os créditos da ideia para si ou para confundi-la.
  • Tipo 8 – Mansplaining: Quando o agressor explana sobre um assunto em tom de autoridade para uma mulher que entende mais daquele assunto ou quando a mesma não pediu a opinião dele sobre determinado tema e mesmo assim, o homem insiste em “ensinar”.
  • Tipo 9 – Manterrupting: Quando o agressor interrompe a mulher impedindo que ela complete um raciocínio e consiga organizar uma ideia verbalmente.

Categoria 3 – Relacionamentos Tóxicos e Abusivos

  • Tipo 10 – Ciúmes excessivo;
  • Tipo 11 – Construção de dependência emocional;
  • Tipo 12 – Controle de senhas e comunicação;
  • Tipo 13 – Manipulação;
  • Tipo 14 – Isolamento de outras relações;
  • Tipo 15 – Controle da vestimenta;
  • Tipo 16 – Perda de identidade;
  • Tipo 17 – Chantagem emocional;
  • Tipo 18 – Cárcere privado;

Categoria 4 – violências em ambientes públicos

  • Tipo 19 – Importunação Sexual: Podem ser considerados atos libidinosos, práticas e comportamentos que tenham finalidade de satisfazer desejo sexual, tais como: apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros.
  • Tipo 20 – Assédio Sexual: É definido por lei como o ato de constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
  • Tipo 21 – Estupro por desconhecidos: forma de violência sexual menos comum, quando o agressor é no geral um desconhecido e aborda a vítima em ambientes públicos como ruas, estradas ou becos. Geralmente implica no uso de força física ou ameaça com facas e armas de fogo;
  • Tipo 22 – Crimes de ódio contra mulheres: este tipo de violência pode ser física, moral ou psicológica. Ela se relaciona geralmente com aspectos identitários (identidade de gênero ou orientação sexual contra LGBTQI+ – principalmente nos casos de mulheres lésbicas ou transexuais).

Categoria 5 – Violências invisibilizadas – atuam de maneira estrutural simbólica vinculando a cultura e a organização social da vida cotidiana.

  • Tipo 23 – Silenciamento cotidiano: Culturalmente mulheres são silenciadas, pois diante da hierarquia social estabelecida entre homens e mulheres, a palavra das mulheres é percebida como de menor valor. Um exemplo é o quanto se duvida da palavra da vítima em casos de estupro, quando se questiona “o que ela estava fazendo lá”; ou “porque não gritou”; ou “porque estava usando aquela roupa”. Mas pode ser percebida também de maneira mais sutil como em mesas de almoço de família ou reuniões de trabalho quando as mulheres tem sua fala descredibilizada. 
  • Tipo 24 – Maternidade compulsória: Perda da autonomia na decisão de engravidar.A ideia normalizada de que a mulher deve ser mãe para ser uma mulher completa, pressão invisível, mas muito forte nas mulheres desde sua infância – onde já cuidam de suas bonecas – para que “completem seu destino”. A proibição da interrupção da gravidez se relaciona estruturalmente com esta modalidade de Violência.
  • Tipo 25 – Dupla Jornada de trabalho doméstico: As mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada, que inclui tarefas domésticas e trabalho remunerado. Apesar da taxa de escolaridade das mulheres ser mais alta, a jornada também é. Isso implica em diversas perdas para Mulheres ao longo de suas trajetórias, um menor desenvolvimento nas carreiras, maior impacto na saúde física e mental.
  • Tipo 26 – Cultura do Estupro:  é um termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro.
  • Tipo 27 – Racismo Vinculado ao Machismo: O mapa da Violência de 2019 mostra que enquanto o homicídio de mulheres negras experimentou um crescimento de 54,2% entre 2003 e 2013, no mesmo período, o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%. Não bastasse a violência contra si, a mulher negra também experimenta com maior intensidade a violência contra seus filhos, irmãos e companheiros. 
  • Tipo 28 – Violência Obstétrica: violência obstétrica é a prática de procedimentos e condutas que desrespeitam e agridem a mulher na hora do gestação, parto, nascimento ou pós-parto. Na prática, se considera violência obstétrica os atos agressivos tanto de forma psicológica quanto física.
  • Tipo 29 – Violência Política Contra a Mulher: A Violência Política contra a mulher ou violência política de gênero, pode ser definida como o tipo de violência que visa desestimular a candidatura feminina a cargos públicos ou os atos que visem cercear o exercício de mandatos.
  • Tipo 30 – Educação desigual para meninos e meninas: Cerca de 16 milhões de meninas nunca terão chance de ir à escola. Em situações de vulnerabilidade, elas são as primeiras a ficarem sem educação e representam, hoje, dois terços da população analfabeta do mundo. Mesmo quando matriculadas, a discrepância de direitos em relação a seus pares masculinos permanece. Podem estar nas salas de aula, mas a invisibilidade, opressões e violências recaem, sobretudo, sobre elas. Tudo isso pelo simples fato de terem nascido meninas;

Categoria 6 – Tipo 31 – Feminicídio:

  • O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de violência doméstica.

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Jornalista do ecossistema de startups

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