Sabemos que os jovens estão entre os mais atingidos pela recessão e o desemprego provocados pela crise da pandemia.
Entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, esses grupos perderam 34,2% e 26% da renda, respectivamente, de acordo com o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social).
No segundo trimestre deste ano, enquanto a taxa geral de desemprego no país era de 13,3%, entre a população de 18 a 24 anos ela alcançou 29,7%.
A catarinense Ana Beatriz Cesa, presidente da Brasil Júnior, que representa mais de 20 mil jovens empreendedores de 1.140 organizações sem fins lucrativos, fala sobre empreendedorismo, pandemia e o mercado de trabalho nos próximos anos, em entrevista exclusiva a Beatriz Bevilaqua, jornalista e colunista do Economia SC.
Qual foi o seu primeiro contato com as empresas juniores? O que te chamou mais atenção?
Ana Beatriz Cesa: Eu já conhecia empresas juniores superficialmente desde pequena porque uma prima minha fez parte. Quando entrei na universidade vi a apresentação de duas que eu poderia fazer parte, a de administração e a de design e moda. O que mais me chamou a atenção foi a possibilidade de interdisciplinaridade, o mundo de coisas novas que se abriam ali na minha frente e que eu podia mergulhar e aprender. Também o brilho no olhos das pessoas que estavam apresentando, a fala delas eram cheias de coragem e determinação e na hora eu pensei: também quero sentir isso.
Como foi o processo para ser a presidente executiva da Brasil Júnior?
Ana Beatriz Cesa: Em 2019 eu era presidente executiva na FEJESC (Federação de Empresas Juniores do Estado de Santa Catarina), e era apaixonada por tudo que estávamos fazendo. Quanto mais eu conhecia sobre o Brasil mais eu queria ser parte do desenvolvimento dele, além de sempre levantar e acreditar muito na necessidade de lideranças femininas. Foi assim que decidi que gostaria de me candidatar e, entendi, ao longo do processo eleitoral, que o que eu estava fazendo era me colocar à disposição da Brasil Júnior e do MEJ, trazendo quem eu era, o que eu acreditava e como eu poderia e queria ajudar a alcançar nossas metas e formar, por meio da vivência empresarial, mais empreendedores comprometidos e capazes de mudar o Brasil! A jornada foi de muito estudo, conexão, análises do meu alinhamento cultural com a organização e no fim o resultado foi positivo e fui eleita!
De que maneira a pandemia impactou os planos de 2020 e quais serão as novas iniciativas/ projetos para o próximo ano?
Ana Beatriz Cesa: A pandemia chegou e nos obrigou a fazer mudanças no movimento que há muito tempo sabíamos que era necessária, mas agora não tínhamos mais espaço. A primeira grande mudança foi nossa forma de trabalho e conexão, tanto entre as instâncias quanto entre os próprios membros, adotando uma postura forte de times remotos e trabalho online. Em paralelo a tudo isso, com a crise afetando a economia, todas as nossas metas começaram a ser afetadas e sendo as mais expressivas faturamento da rede e número de projetos e na sequência, nossas metas de expansão. Tínhamos clareza do nosso compromisso com o Brasil, com a formação das lideranças e com os pequenos negócios, que tanto foram afetados. Por isso, nosso foco em todo o período era: Como faremos para continuar levando as respostas necessárias? Com isso em mente, começamos a mudar alguns de nossos produtos, como o nosso encontro Nacional e encontro geral de articuladores, e passamos a criar novos pontos de contato online para a rede. Em paralelo, reformulamos as metas com base nas dores que a Rede e os empresários juniores nos trouxeram e criamos produtos, como o Unidos Pelo Brasil, que busca levar auxílio das empresas juniores aos pequenos negócios brasileiros. Entre julho e agosto os resultados voltaram a crescer de forma mais acelerada e estamos otimistas que vamos alcançar nossos gols! Acreditamos que 2021 ainda será um ano de grandes descobertas, readaptações e consolidação! Já é um ano extremamente importante para o MEJ por si só, último ano do ciclo do planejamento estratégico da rede, ano de ranking das universidade empreendedoras e lançamento das metas para os próximos três anos. Com certeza será um ano muito especial!
Você acha que os jovens brasileiros têm medo de empreender? Por quê?
Ana Beatriz Cesa: Dados nos mostram que na crise, a parte mais afetada da população é a juventude: tiveram queda nos salários, aumento da carga de trabalho e o desemprego chegou a ser 15% maior que o do restante da população. Além disso, 40% dos jovens com ensino superior no Brasil não tem emprego. Isso evidencia a dificuldade de ser jovem no Brasil e como o empreendedorismo vem como necessidade para os brasileiros. Não encontro fatos que comprovem um medo de empreender, mas percebemos o medo de falhar, a falta de apoio e de preparo e o mercado muito competitivo e com poucos incentivos. Percebemos também uma busca cada vez maior por atividades que auxiliem os jovens a se preparar quanto líderes e como empreendedores, sendo o MEJ um desses movimentos. Nosso crescimento (2016 possuíamos 300 EJs na rede, em 2020 estamos chegando na marca de 1300) é o fator mais claro desse movimento,
O que falta para que tenhamos mais jovens nesse país empreendendo?
Ana Beatriz Cesa: Apoio, incentivo e uma cultura empreendedora mais forte nas instituições de ensino. Não só na superior, mas também no ensino médio e básico. Uma maior disseminação também do intraempreendedorismo, que chamem as pessoas a serem protagonistas e empreendedores das suas próprias carreiras!