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Startup se propõe a revolucionar o ensino fundamental brasileiro por meio da tecnologia

Foto: Freepik

Aqui na minha coluna do Economia SC, damos espaço e visibilidade às mulheres do ecossistema brasileiro de inovação e startups, e não somente representantes do sul e sudeste, mas também, trazemos cases de empreendedoras sensacionais do norte, nordeste e centro-oeste deste país. Elas são talentosas, fazem a diferença, mas muitas vezes não recebem a visibilidade merecida das mídias nacionais.

Hoje vamos falar com a Alionália Sharlon, ela é maranhense, professora, empreendedora e está à frente de uma das startups de educação e impacto social mais revolucionárias do Brasil: a ImaginaKids.

Apaixonada por tecnologia e estratégias de ensino, ela acredita que a leitura e a escrita são verdadeiramente capazes de mudar o mundo. Por isso, idealizou a startup muito antes da pandemia com o objetivo de usar tecnologia para auxiliar na produção textual de estudantes do ensino fundamental.

A empreendedora se questionava todos os dias ao voltar das aulas: “Como a gente pode fazer com que as crianças usem os dispositivos, que fazem parte da geração deles, de forma saudável? Como a gente pode contribuir para o desenvolvimento delas? O que a gente pode fazer que seja divertido?”.

Aí surgiu a ideia de criar uma plataforma que tornasse real algo que as crianças fazem o tempo todo, que é criar e contar histórias. A partir desse momento foi correr e conversar com crianças, pais, depois professores, coordenadores e diretores de escola. 

Por meio do projeto, iniciado em 2017, as crianças desenvolvem a imaginação, habilidades, além de explorar e expor sentimentos por meio das histórias. Elas podem criar, editar e diagramar seus próprios livros e em seguida recebê-los impressos.

Até hoje foram 5.900 livros construídos pelas crianças com total de 116.000 páginas produzidas. Conheça essa história fantástica e acompanhe nosso bate-papo na íntegra com essa super empreendedora:

Beatriz: Como surgiu a ideia de criar a ImaginaKIDS? Como foi a receptividade das escolas num primeiro momento? 

Alionália: Ela partiu de uma inquietação em casa. Sou professora, meu marido é professor, e temos dois filhos. Um adolescente e a menor, que na época estava começando a usar o smartphone. Mas era um uso muito passivo e é aí que estava o incômodo. Aí surgiu a ideia de criar uma plataforma que tornasse real algo que as crianças fazem o tempo todo, que é criar e contar histórias. A partir desse momento foi correr e conversar com crianças, pais, depois professores, coordenadores e diretores de escola. No primeiro momento as escolas adoravam a proposta, verbalizavam que era um projeto promissor, mas eles freavam no: “Ah, vocês ainda não tem nenhuma escola usando?”. Até conversar com uma que virou e disse: “Taí, gostei. Quero fazer essa parceria com vocês, a ideia é ótima!”. O produto criou forma, as professoras e os alunos se encantaram com a ferramenta, ao mesmo tempo superando a expectativas dos pais, que ficaram emocionados com a produção dos filhos. 

Beatriz: Vocês participaram de alguns programas de fomento à inovação, tecnologia e educação?

Alionália: Nesse trajeto já participamos de programas locais como “Inova Maranhão” e o programa de “Residentes do Black Swan” em parceria com a “Creative Pack”. Em nível nacional participamos do “Capital Empreendedor” junto ao SEBRAE, do Lab de “Empregabilidade e Impacto Social” da Artemisia e do “Inovativa Brasil’. Também tivemos a oportunidade de expor nossa solução no espaço Startups e Makers da “Campus Party Brasil”.

Beatriz: Acha que o ensino de tecnologia em sala de aula deveria ser oferecido em todas as escolas? Qual a relevância dessa habilidade para as crianças nesse mundo tão acelerado e disruptivo? 

Alionália: Sim, seria o ideal hoje. Assim como as crianças precisam de caderno e lápis, eu acredito que as escolas devem ter suporte para trabalhar com tecnologia em sala de aula. Nossas crianças hoje não têm as mesmas projeções das crianças de 50 anos atrás. A tecnologia não é vilã, ela só deve ser usada com atenção e moderação. Devemos ensinar os alunos a fazer bom uso dela, mostrar o quanto pode ser útil saber usar. Naturalmente as pessoas seguem uma rotina: tem hora para dormir, acordar, estudar e, para a criança, devemos delimitar o uso dos dispositivos. É o nosso contexto atual, a gente trabalha habilidades e competências em todos os níveis, e preparar o aluno para o futuro é trazer também os meios que estão sendo utilizados hoje. Só que infelizmente ainda é uma realidade muito distante. Com a pandemia, muitas escolas tiveram que antecipar 10 anos de avanço, mas as escolas públicas não tiveram o mesmo suporte e, mais uma vez, a barreira da desigualdade ficou evidente.

Beatriz: Qual o grande diferencial competitivo da ImaginaKIDS em relação às outras iniciativas do mercado? Vocês estão presentes em quantos estados atualmente? 

Alionália: A plataforma onde as crianças podem criar, editar e diagramar seus próprios livros e em seguida recebê-los impressos. Poder acessar tanto da escola quanto de casa tem auxiliado as escolas nesse período de ensino híbrido, e esse é nosso principal diferencial. As escolas costumam criar os livros de forma manual, as crianças desenham, a escola digitaliza e uma empresa cuida da parte de edição e impressão. Nós também realizamos esse ciclo manual, chamamos carinhosamente de “ImaginaKIDS mãos a obra”, porém a nossa principal ferramenta é a plataforma para web e dispositivos móveis. Transformar os alunos em protagonistas do processo faz parte do nosso DNA e por isso fornecemos todos os meios para que a construção do livro seja possível, com o aluno estando na escola ou em casa. Hoje estamos em presentes em 5 estados e trabalhando para alcançar os demais.

Beatriz: Quantos alunos foram impactados com a metodologia da ImaginaKIDS? Como ficou a adesão durante esse período de pandemia?

Alionália: Nosso trabalho é realizado no Ensino Fundamental I, do 1º ao 5º ano, período chave para o encantamento da leitura dos alunos. É aquele momento de plantar a sementinha e criar o hábito da leitura e da escrita. Já impactamos mais de 5 mil alunos com a nossa solução. E eles terminam um livro perguntando quando irão fazer o próximo. A pandemia trouxe a paralisação de atividades e até o fechamento de escolas. Com isso as vendas de contratos reduziram substancialmente. O time aproveitou esse período para assessorar as escolas com contratos fechados e reformulou alguns aspectos da plataforma, aumentando a capacidade de atendimento. Durante esse período mantivemos os clientes que já estavam conosco, a captação de novos clientes ficou mais lenta, mas ainda assim temos conseguido captar novos clientes.

Beatriz: Na sua opinião, hoje, a localização da startup não é mais critério de exclusão de investimento, em relação ao sudeste, por exemplo? O que é mais importante é a solução / relevância do negócio? 

Alionália: Os investidores estão começando a olhar com mais atenção para o nordeste. É incrível o trabalho que a região tem desenvolvido. Em se tratando de Maranhão, temos um ecossistema ainda muito jovem, com uma galera muito engajada fazendo a diferença. Esse trabalho tem gerado ecos e notoriedade, o que é muito positivo. A gente tem uma clara centralização industrial na região sudeste, o que leva a essa concentração dos investimentos na própria região. No entanto, a tecnologia quebrou essas barreiras, permitindo que a inovação surja em qualquer localidade, e os investidores têm percebido isso. Quando a gente coloca na balança, a solução/relevância do negócio tem um peso grande, mas a percepção que tenho é de que há uma desconfiança na capacidade de entrega daquele grupo. Tanto a tecnologia quanto os empreendedores. Eu conheço empreendedores incríveis de norte a sul do país e as mesmas tecnologias que estão sendo usadas lá fora, são as mesmas usadas no Brasil. Eu acredito em pessoas, no time. Se tem um time robusto, tem jogo.

Beatriz: Vocês já receberam investimento? De quem?

Alionália: Hoje fazemos parte das Startups investidas pela Bossanova Venture Capital, que tem no seu corpo diretor investidores da região nordeste e entendem como é esse trajeto. Quando eles abriram rodada de investimento para o Pool Edtech, vimos uma ótima oportunidade. Partirmos da premissa  que “O não já temos. Vamos buscar um sim?” A casa estava em ordem, produto com clientes, as contas e planejamento ok, a equipe com vontade de crescer. Assim, participamos de uma rodada aberta no ano de 2020 e recebemos 100k de investimento.

Beatriz: Qual foi o seu maior desafio na jornada empreendedora?  

Alionália: O meu maior desafio na jornada sem dúvida é mostrar que uma startup maranhense pode impactar todo o país. Aquela pergunta: DDD 98? De onde vocês são? É longe né? Aí é explicar os pormenores do trabalho, mostrar o que fazemos, como é feito e o impacto que geramos. A gente trabalha exatamente para quebrar essas objeções. E tem fluído bem nosso trabalho.

Beatriz: Quais os próximos planos da empresa e metas para 2021?

Alionália: Crescer. Alcançar pelo menos mais 10 estados e fechar o ano com o faturamento maior que 2020. No ano passado estávamos com um planejamento bem alinhado, mas assim como todos os setores, fomos pegos de surpresa com a pandemia. Ninguém havia colocado no planejamento “Em caso de pandemia”. Mexeu com tudo. Tivemos que colocar muita coisa em ordem, ajustamos o produto da melhor forma para atender a necessidade das escolas e esse ano continuamos assim, conversando, ouvindo e trabalhando.

Beatriz: Tem alguma dica especial para as mulheres que estão ainda na fase da ideação do negócio?

Alionália: Para além de colocar o estado em destaque, temos que apoiar outras mulheres nessa jornada. Por isso faço questão de participar de todos os encontros, lives e talks que visam falar da jornada em startups, especialmente de mulheres em startups. É um caminho muito denso, mas a gente não pode ter medo e nem baixar a cabeça. O medo bloqueia as pessoas para começar. Não tenha medo de errar e o principal, que vale para todas as mulheres, não tenha medo nem vergonha de pedir ajuda. Ninguém faz nada sozinho. Eu bem sei como é difícil essa imagem de mulher multitarefas. Isso é muito pesado e você não precisa e não deve fazer sozinha. Peça ajuda! Sempre terá uma mão amiga nessa rede que irá lhe ajudar. Mulheres que querem começar e têm uma ideia de produto a ser desenvolvida: antes de tudo valide, descubra se existem de fato pessoas dispostas a pagar por essa solução. Tem muita gente que tem uma ideia e parte logo para o MVP e só depois vai descobrir se alguém pagaria. Você perde tempo e sim, isso é perder dinheiro. Faça o processo de descoberta da forma correta e utilize esse conjunto de informações que você obteve para fazer o produto. A ImaginaKIDS só saiu do papel depois de conversar com muitos pais e gestores de escola. Se apaixonar pelo problema é quase um mantra na ImaginaKIDS. Todo mundo que entra sabe que a nossa meta é trazer uma solução para o baixo engajamento dos estudantes nos processos de leitura e produção textual. Como resolvemos isso hoje? Tornando-os autores de verdade. Dando uma finalidade para as suas produções. Por isso é tão importante se apaixonar pelo problema. A solução pode mudar de um mês para o outro, mas o problema… É ele que merece atenção.

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Jornalista do ecossistema de startups

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