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Jade Utsch, a CEO que se propõe a mudar o futuro do mercado fitness

Foto: divulgação

A pandemia acelerou a digitalização dos negócios como um todo e alterou o comportamento dos consumidores. Hoje a saúde e o bem-estar estão entre as principais prioridades de muitos brasileiros.

As pessoas estão buscando cada vez mais o significado da palavra equilíbrio (físico, mental e espiritual). Por isso trouxemos uma grande empreendedora deste segmento para falar sobre o tema e conhecermos juntos a trajetória desta profissional que rompeu as barreiras do senso comum.

A entrevistada de hoje é a Jade Utsch, fundadora da RadarFit, game fitness que engloba todas as vertentes ligadas à saúde e bem-estar.

Ela desenvolveu, junto com as sócias Jennifer de Faria e Tatiany Duarte, o aplicativo muito antes da crise da pandemia e durante o isolamento social o negócio cresceu 1.600%. Esse número deixa claro que as pessoas buscaram meios de seguir uma rotina saudável mesmo em confinamento e sem as academias abertas.

Acompanhei toda a trajetória desse negócio desde o início da ideação e a verdade é que não foi nada fácil. No Brasil, somente 4,7% das startups são lideradas por mulheres, segundo o “Female Founders Report 2021″, estudo divulgado pela Distrito, em parceria com Endeavor, B2Mamy, Google e outras associações.

A pesquisa ainda aponta que, apesar dos recordes de aportes em startups brasileiras, as empresas fundadas só por mulheres receberam no ano passado 0,04% do total de US$ 3,5 bilhões de investimentos em empresas aqui no país. 

Jade é uma exceção no ecossistema de startups brasileiro. Não só ela, como também as suas sócias. As três fundadoras tiveram que pivotar incontáveis vezes até o negócio começar a crescer e ganhar visibilidade no mercado.

Nessa entrevista exclusiva para o Economia SC, ela traz sua visão como empreendedora e uma perspectiva sobre o futuro do mercado fitness.

INÍCIO DA JORNADA EMPREENDEDORA

O olhar empreendedor começou desde cedo, aos 13 anos, na loja do avô paterno. Ainda adolescente, apoiava a equipe de vendas de material para construção e se sentia motivada por ter certa autonomia no trabalho. Em seguida, aos 16 anos, foi ajudar a mãe no “Instituto Sustentar”, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), sem fins lucrativos, com foco na preservação ambiental e promoção da inclusão social. Lá aprendeu ainda mais sobre a parte logística de uma empresa.

Aos 19 anos, resolveu abrir o seu primeiro negócio apostando todas as suas reservas no entretenimento. A “Surtar” surgiu com o foco na organização de eventos exclusivamente com cantores rappers. O primeiro evento faturou 600 mil reais e assim ela ousou organizar várias outras edições. De 10 eventos realizados, somente 3 não deram lucro. Pouco tempo depois, Jade também apostou em outro segmento, o gastronômico. O “Projeto Paladar” trazia boa culinária e jazz com eventos personalizados e exclusivos na capital mineira.

Jade, no entanto, ainda não estava satisfeita. Inquieta, queria criar um negócio escalável e desejava fazer algo baseado numa “dor de mercado” que ela mesma sentia. Em 2016, a empreendedora se deu conta que tinha dificuldade em manter uma rotina de bem-estar e cuidado pessoal, por isso criou o primeiro MVP da RadarFit. A ideia era desenvolver um marketplace que conectasse vários profissionais da saúde e bem-estar a pacientes. A primeira versão não deu nada certo. Mas ela soube persistir. 

PIVOTAGENS

Jade convidou uma amiga para embarcar nessa aventura: Jennifer De Faria era uma pessoa próxima, já haviam estudado juntas e tinham habilidades complementares para construírem um negócio de alto potencial, mas também de altíssimo risco. Era preciso extrema confiança uma na outra.

Elas conseguiram uma oportunidade de aceleração pela Lemonade e em seguida pela Startup Farm. Nesse caminho, também conheceram a Tatiany Ribeiro, uma talentosa profissional que aprendeu programação por conta e desenvolveu a primeira versão do aplicativo da startup em menos de 48h. Uma autodidata dos algoritmos.

Foram muitos erros e acertos no caminho. As várias versões do marketplace não deram certo, mas abriram espaço para a gameficação. Alguns investidores fizeram total diferença no início dessa jornada, como o investidor-anjo Alan Leite, CEO da Startup Farm e a mãe da Jade, Jussara Utsch. Eles acreditaram no negócio quando ninguém mais apostava.

UNIÃO ENTRE SÓCIAS

Uma das principais causas de quebra entre as startups é a briga entre os sócios. Muitos desentendimentos, desalinhamentos ou até mesmo falhas de comunicação podem colocar a empresa no buraco. Já a união entre os sócios pode ser decisiva na continuidade da empresa. Jade lembra que já pensou em desistir várias vezes: quando não tinha parceiro, dinheiro ou clientes muitas vezes não via saída, mas o apoio das sócias gerou o impulso para seguir em frente.

“As minhas sócias foram fundamentais para que o negócio chegasse até aqui. Saber identificar quem realmente tem um propósito em comum e o mesmo nível de resiliência é fundamental. É preciso também empatia, saber ouvir, ter uma comunicação assertiva e muita confiança. Tudo isso será colocado à prova a todo momento”, destacou Jade.

FUTURO DO MERCADO FITNESS

A pandemia achatou a curva de aprendizado da Jade e suas sócias e a empresa acabou crescendo além do que elas imaginavam. O game também passou por várias atualizações e hoje os usuários podem criar seu avatar em 3D e têm acesso a treinos personalizados, para serem feitos em casa ou ao ar livre, baseados no objetivo (emagrecer, fortalecer ou manter hábitos saudáveis) e no perfil do usuário (idade, altura, peso e gênero) com uso de Inteligência Artificial. No aplicativo, ao realizar os desafios, os usuários conquistam medalhas e acumulam moedas para trocar por prêmios reais e também participam de rankings e torneios.  

“Com os campeonatos, as pessoas se sentem mais engajadas para cumprirem a missão”, explicou Jade. Segundo uma pesquisa realizada pela própria startup, a raiz da dificuldade em ter uma vida saudável vem da falta de recompensa imediata gerando falta de motivação (25% dos entrevistados), falta de disciplina (33% dos entrevistados) e “desculpas” que não tem tempo pra ter uma vida saudável (29% das pessoas).

Hoje a startup está presente em 15 países (todos na América), tem uma base de mais de 50 mil usuários e oferece o que nenhum outro aplicativo brasileiro conseguiu até hoje: reunir em uma só tecnologia atividade física, meditação, gamificação e recompensa imediata. A startup oferece a solução para pessoas físicas ou jurídicas.  O próximo passo será interconectar o aplicativo às academias, deliverys de alimentação saudável e lojas de roupa fitness. 

Foi uma longa jornada de desenvolvimento do produto e validação do modelo de negócio e hoje as três fundadoras se sentem muito realizadas, mas sabem que a escalada não para por aqui.

“Empreender em um negócio de alto risco é um desafio contínuo, assim como um game que possui várias fases cada vez mais difíceis, mas com disciplina, estratégia, uma rede de parceiros fortes e as sócias certas, você vai muito mais longe”, concluiu.

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Jornalista do ecossistema de startups

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