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Conheça investidoras-anjo que apostam em startups e levam diversidade ao setor

Crédito: Amanda Andreone, investidora

O investimento-anjo, modalidade em que pessoas físicas investem o próprio capital em startups em estágio inicial e com alto potencial de crescimento, tem ganhado visibilidade.

No entanto, o setor ainda é marcado pela falta de equidade de gênero pois, segundo levantamento recente da entidade Anjos do Brasil, apenas 14% dos investidores-anjos são mulheres.

Nesse cenário, grupos de investidores-anjo que reúnem executivos para realizar aportes em conjunto têm agora o desafio de incluir mais mulheres em seus quadros.

Um exemplo é o BR Angels, associação de investimento-anjo composta por mais de 150 empreendedores e altos  executivos de grandes empresas, que já realiza esforços para tornar o grupo mais diverso. 

No primeiro semestre, o investimento em startups brasileiras atingiu o nível histórico de US$ 5,2 bilhões, de acordo com dados da plataforma de inovação Distrito.

Apesar de aquecido, a distribuição de capital e o protagonismo no setor ainda vão, em sua maior parte, para pessoas do sexo masculino, já que hoje as startups brasileiras têm apenas 4,7% de fundadoras mulheres e, nos bastidores, poucas mulheres já realizam investimentos. 

Segundo Orlando Cintra, fundador e CEO do BR Angels, a inclusão é peça-chave para a expansão do ecossistema:

“A gente acredita que o setor do investimento-anjo e o mercado dos investimentos em geral têm muito a ganhar com a diversidade. Múltiplos olhares e vivências trazem maior capacidade de identificar negócios disruptivos, não convencionais, para investir. O BR Angels está de portas abertas para todas as executivas e executivos que queiram começar a fazer investimento-anjo com o respaldo de um grupo qualificado, que desde 2019 já realizou mais de R$ 15 milhões em aportes, em 12 startups de segmentos variados”.

Conheça algumas das mulheres pioneiras do investimento-anjo no país, que querem sair do estigma de minoria e promover a diversidade e igualdade no setor.

À procura de novos unicórnios

Ana Paula Ribeiro Tozzi, CEO da AGR Consultores, teve a primeira experiência como investidora-anjo em uma empresa americana de microcréditos para sellers da Amazon. Agora com foco no Brasil, se juntou ao BR Angels para identificar startups promissoras e fazer networking com os outros associados. 

“Fazer investimento-anjo nos força a mergulhar em novas tecnologias, novos modelos de negócio que, por consequência, forçam nossas cabeças a estarem atualizadas e antenadas. Claro que ter retorno financeiro será incrível, mas o ciclo de investimentos, por si só, já garante payback. Minha jornada no investimento-anjo tem sido muito construtiva. Fiz amigos, aprendi e criei uma nova rotina de estudos. É muito gratificante”, comenta.

Com interesse especial em logtechs, fintechs, agtechs e healthtechs, a executiva acredita que as startups brasileiras têm tudo para dar certo.

“Em um país com tantos problemas, tantos “pain points” (pontos de atrito na jornada de consumo), temos muita criatividade em desenvolver soluções. Nos falta segurança jurídica para novos modelos de trabalho e novos modelos tributários, como em qualquer cenário empreendedor no Brasil, mas vamos superar essas barreiras também”, destaca.

Foco nos founders

Adriana Flores é head de negócios digitais da Jereissati Centros Comerciais e enxerga o ecossistema de empreendedorismo do país como promissor e diversificado. Para ela, se destacam as startups que possuem os melhores e mais persistentes founders, além de principais integrantes do time, e não necessariamente as que possuem as ideias mais brilhantes. A executiva, que sempre teve vontade de fazer parte do ambiente empreendedor, também iniciou a sua jornada no investimento-anjo nacional por meio do BR Angels:

“No investimento-anjo, você investe não em uma, mas sim em várias startups. E no BR Angels é possível obter como retorno dois ativos de grande valor: o potencial retorno financeiro, mas é importante ter em mente que o investimento em startups early stage é de alto risco e esse retorno pode demorar, ser exponencial ou nunca ocorrer; e o aprendizado com as trocas de ideias entre os membros do grupo e as startups em cada plenária e cada reunião, que deixam insights para todos os envolvidos. Eu posso assegurar que integrar o BR Angels acelerou o meu aprendizado e estimulou a minha confiança para investir no ecossistema”.

Ela ainda acredita que uma boa startup pode vir de qualquer segmento e, por isso, fica aberta às melhores execuções e não tem um setor específico de interesse.

Investimento em startups atrelado ao desenvolvimento do país

Também associada ao BR Angels, a investidora-anjo Amanda Andreone considera o avanço da atuação das startups no Brasil “um caminho sem volta”.

Ela acredita que o desenvolvimento de negócios promissores está profundamente ligado ao crescimento e desenvolvimento do próprio país: 

“Retorno financeiro é sempre um bom motivador para dedicar-se com afinco aos negócios, mas as experiências como investidora-anjo têm se revelado valiosas para o aprendizado contínuo, o tão falado ‘lifelong-learning’. Por isso é muito bom fazer parte de um grupo absolutamente comprometido e tão competente, que busca trabalhar em prol de todo o ecossistema, alavancando o empreendedorismo do Brasil e, porque não, mundo afora”.

Apesar de ter interesse também pelas agtechs, afirma que são as edtechs que fazem seus olhos brilharem pelo propósito e pela necessidade latente de melhorar a educação para todos.

Segundo a executiva, a maturidade no posicionamento, abordagem e o apetite por inovação são fatores que promovem negócios incríveis e que valem o investimento.

Educação em primeiro lugar

Segundo a Presidente para América Latina da Education First, Andrea Mansano, o brasileiro é empreendedor por necessidade e o setor apresenta muitas oportunidades para qualquer pessoa que busca retorno financeiro.

Com foco em identificar startups promissoras no setor de educação, a executiva se uniu ao BR Angels e espera fazer diversos investimentos do tipo no futuro:

“A jornada tem sido incrível. Tenho muito aprendizado com o ecossistema e a oportunidade de conhecer um mercado que, até pouco tempo, era desconhecido para mim”.

Segurança jurídica para os investidores-anjo é crucial

A sócia diretora do escritório Lima Junior, Domene Advogados, Vanessa Domene, era investidora-anjo individual com aportes realizados em duas startups: uma de tecnologia para tratamento fiscal e tributário de produto no Brasil e a outra uma plataforma para esportes. Apesar de achar que o país tem muito potencial no quesito empreendedorismo, considera fundamental o estabelecimento de leis que levem segurança jurídica para os investidores- anjo. 

“No campo da tributação, as startups sofrem com a falta de clareza na legislação e falta de definição de temas pelo Poder Judiciário. Outro ponto relevante é a subjetividade no grau de responsabilização dos investidores pelas práticas das investidas. Nesse sentido, projetos de lei, em especial o Marco Civil das Startups, embora ainda possam ser melhorados, vão em linha com o que esperamos do legislador para permitir o crescimento sustentável das startups”, explica.

Com experiência também na parte de advocacia para startups, a executiva ingressou na rede BR Angels para diluir o risco dos seus investimentos, já que esse fator é minimizado no grupo, após a avaliação das startups por associados especialistas nas mais diversas áreas do mercado. 

“Num primeiro momento, decidi fazer investimentos anjo para diversificar minha carteira pessoal. Hoje, no BR Angels, o meu maior interesse é aprender cada vez mais sobre investimentos, tecnologia, negócios que acontecem no mundo. A troca de informações no grupo é riquíssima e o networking tem se desenvolvido de forma natural. Não tenho expectativas financeiras de imediato, mas claro que o retorno será muito bem-vindo.  Participo ativamente das reuniões do grupo, sou Board Advisor de uma das nossas startups, membro do Comitê de Avaliação e líder do grupo SMART ESG, que tem como objetivo dar mentoria neste tema para as nossas investidas, acelerando o processo de aprendizagem”, complementa.

Apadrinhamento entre investidoras

Fundadora e CEO da Chiefs.Group, empresa que conecta profissionais seniores à startups para contribuir com o desenvolvimento de novos negócios no país, Cristiane Mendes tem mais de duas décadas de trajetória no ecossistema de empreendedorismo.

A executiva, que ainda é fundadora do Delivery Center e da Visor, decidiu embarcar no investimento-anjo para ter resultados mais agressivos.

“Todo mundo fala muito do risco de uma startup fechar, mas eu gosto de pensar na possibilidade de encontrar pela frente negócios fenomenais e empreendedores incríveis – é isso o que me motiva. Sempre que desejamos ter resultados mais agressivos, temos que ter um apetite ao risco maior e o investimento em startups é uma ótima alternativa”, destaca.

Outra grande motivação da empresária para investir em startups é o aprendizado constante:

“Não há uma única interação com startups em que não se aprenda coisas novas, seja pela visão do empreendedor, uma ferramenta nova ou um KPI. Eu considero que interagir com startups é o novo MBA”.

No entanto, Cristiane acredita que o investimento ainda está muito concentrado nos grandes centros, em startups mais maduras e pouco diversas:

“A minha meta como investidora é olhar para essas questões e trabalhar para a expansão dos eixos de investimento no país, identificar startups early stage promissoras e agregar mais investidoras mulheres no setor. Esse é o movimento que vai inspirar a nova geração e inaugurar uma nova forma de fazer negócios, com outro ritmo e um objeto diferente, pois investidoras mulheres estimulam empreendedoras mulheres. Eu estou ativamente buscando novas investidoras para a Chiefs.Group porque nós, mulheres que já estamos dentro do ecossistema, estamos ansiosas para ter mais pares conosco. Eu gosto muito da ideia de um apadrinhamento entre as investidoras, onde uma experiente pega a mão de uma novata para trocar aprendizados e incertezas e, assim, avançam juntas até que haja confiança o suficiente para o voo solo. Representatividade importa e impacta muito o ecossistema”.

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Jornalista do ecossistema de startups

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