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“Uma boa dose de sonho e outra de peleia”

Crédito: reprodução vídeo institucional da Central Unicred RS

Esta coluna é um reconhecimento mais do que merecido a um visionário. 

Quem hoje vê o Sistema Unicred, uma instituição cooperativa de crédito com mais de 250 mil cooperados distribuídos por 15 estados brasileiros, e quem conhece a solidez de sua atividade que alcançou no ano passado um resultado de quase meio bilhão de reais, nem sempre tem noção de que essa história,da qual faço parte com orgulho, se iniciou há 32 anos em um pequeno município do Rio Grande do Sul. E teve um pioneiro: o médico Antônio Moacyr Azevedo.

Tomo a liberdade de transcrever a seguir palavras do próprio, em depoimento que está no meu novo livro Coopbook – Cooperativismo de A a Z. Selecionei aqui alguns trechos que considero inspiradores (a história completa você confere no livro): 

“Há quase 50 anos o cooperativismo entrou na minha vida para sempre.

Entendo o cooperativismo como a forma mais humana e mais democrática de distribuir a riqueza. Sou um incansável defensor do movimento, apesar deste entusiasmo já ter sido julgado como mero delírio de um sonhador. É curioso pensar que foi em um cenário de desconfiança que nasceu a Unicred, a primeira cooperativa de crédito da área da saúde no mundo. E para colocá-la de pé foi preciso uma boa dose de sonho e outra de peleia. 

Sou um cooperado desde 1973, quando me associei à Unimed. Na época eu era um jovem médico praticante da “interiologia” – termo que inventei para descrever a especialidade que é fazer medicina no interior. Atuava em Casca, município localizado no pé da Serra gaúcha e que tinha então algo como 3 ou 4 mil habitantes. Em 1987, fui o primeiro presidente da nova unidade da Unimed fundada em Casca, a Vale das Antas. 

O cargo me deixou a par da potência que tem uma cooperativa bem gerida e do desafio de se estabelecer parcerias quando a filosofia cooperativista não ecoa no entorno. A nossa unidade enfrentava dificuldades para chegar a acordos com algumas unidades de saúde e para investir em equipamentos. A solução para fortalecer a nossa cooperativa foi justamente montar outra. Criar um laço forte com a integração de novos ramos. 

Cá com meus botões, comecei a pensar: temos uma cooperativa de trabalho funcionando bem e dando lucro. Se nós, na Unimed, fizermos uma cooperativa de crédito para que este dinheiro transite por dentro de um sistema financeiro próprio, não vamos mais dar um lucro fabuloso para os bancos. Com os juros das aplicações poderíamos construir hospitais, laboratórios e liberar financiamentos para os cooperados. 

A mãe da criatividade é a senhora necessidade. Fiquei um ano pregando essa ideia na região, até que em 1989 fundamos em Casca a Unicred Vale das Antas com 25 cooperados. O descrédito à proposta nos rendeu a fama de aventureiros sonhadores, e houve até boatos de que eu estava mal profissionalmente e usaria a nova instituição para me reerguer. 

Três anos depois a cooperativa foi finalmente reconhecida pelo Banco Central depois de um trâmite jurisdicional, e o projeto chegava à Unimed do Brasil para ser expandido. Tanta insistência valeu muito a pena. A Unicred se tornou o braço econômico da Unimed e essa parceria permite que hoje a cooperativa médica financie hospitais e centros de alta complexidade. 

Acredito que o futuro do cooperativismo hoje passa por uma questão fundamental: que a filosofia cooperativista nunca seja abandonada. Na vida tudo é relacionamento pessoal, e o contato especial entre cooperativa e cooperado faz muita diferença. A doutrina é justamente baseada na ajuda mútua e no olhar para o ser humano.

Especialmente no ramo crédito, é preciso fugir da bancarização que vê o cliente como um número. Na cooperativa de qualquer natureza, o cooperado tem que ser tratado com toda a gentileza e distinção, como o dono do negócio que de fato é.”

Obrigado, doutor Azevedo, por tanto ensinamento e pelo legado que hoje perpetuamos.

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CEO de cooperativa de crédito, autor de livros sobre cooperativismo e Influenciador Coop do Sistema OCB.

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