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Muita luz também cega: é o fim do venture capital?

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Foto: Vector Tradition/AdobeStock

Não, não é o fim. Estamos sim atravessando mais um daqueles momentos em que fatores macro e importantes acontecimentos internacionais acabaram impactando o mercado.

Todo este clima de volatilidade vem apenas reforçar que alguns indicadores e o “oba oba”, precisavam urgentemente ser ajustados.

Nos primeiros dias diante do mercado de venture capital fui surpreendida com uma expressão: “o venture capital é o investimento do capital paciente”.

Além de ser extremamente charmoso, o termo define claramente o que o dinheiro compra neste mercado: o tempo. Além, obviamente, de excelentes empreendedores o expertise de gestores.

Essencialmente, o capital de risco é de longo prazo, que não tem pressa de esperar pelo resultado e, mais importante, não tem pressa em esperar e encontrar os melhores negócios e times que receberão este recurso.

Aqui no Brasil, o discurso indica que investidores devem começar alocando entre 3% e 5% do total do seu patrimônio em venture capital, lá fora esse percentual é algo entre 10% e 15%. Logicamente trata-se de um mercado mais maduro. 

Todavia, o brasileiro começou a aprender a investir mais em startups, tecnologia e inovação. Muito estimulado pelo cenário de juros baixos que vivemos e em busca de maior rentabilidade.

De forma não muito estruturada trouxe a pessoa física e também aqueles investidores não tradicionais, como Private Equity e Hedge Funds e a enxurrada de liquidez levou a uma escalada dos valuations em ritmo geométrico, empresas em seus estágios iniciais já sendo avaliadas acima de U$100 milhões. O básico da oferta e demanda colocando em evidência mega valuations.

Parte desse movimento justifica-se por uma grande ressaca pós-pandemia e medidas tomadas pelos bancos centrais mundiais que injetaram capital a fim de conter um efeito ainda maior nas suas economias.

A conta em algum momento iria chegar. Altas taxas de juros, inflação, tensões geopolíticas, nova onda de lockdow, guerra entre Rússia e Ucrânia impactando preços de petróleo, gás e cadeias inteiras de fornecimentos.

As ações de tecnologia sofreram abruptamente, investidores preocupados com o aperto nas taxas de juros no Estados Unidos, o que inevitavelmente reflete em empresas de alto crescimento, dado que aumenta o custo de capital. Aqui no Brasil o movimento não poderia ser diferente.

No entanto, todo esse ajuste já tem sinalizado que chegamos a um nível que fica complicado para o investidor ignorar. E mesmo os investidores estrangeiros que, desde o final do ano passado, reforçaram sua alocação no Brasil, dado que a B3 ficou barata, já começam a se movimentar para empresas de tecnologia e não somente aquelas relacionadas a commodities e blue ships.

Fundos de PE e Hedge fundos tiraram o pé do acelerador, o dinheiro dos investidores não tradicionais começa a cair e permanecerá o capital dos investidores dedicados a este mercado.

Então investir em tecnologia não é um bom negócio dado toda essa volatilidade? Não, investir em tecnologia é sem dúvida a melhor opção quando se tem um horizonte de longo prazo, principalmente quando olhamos para o Brasil e América Latina, pois são muitos problemas a serem resolvidos em mercados ineficientes.

O momento atual apenas indica que empreendedores deverão ajustar suas estratégias de captação e a busca por capital a qualquer preço, a cada nova rodada, não se sustenta. D

iante disso, gosto quando Marcelo Amorim, Managing Partner da Invisto, reforça como os empreendedores devem se posicionar.

“Em um ambiente com mais incertezas, os valuations provavelmente serão, no mínimo, mais realistas e os empreendedores deverão estar preparados para levantar capital com investidores muito mais diligentes com o estágio da startup aliado a uma comprovação efetiva do equilíbrio do modelo de negócios. Fazer mais com menos volta a ser tom de toda a execução do plano estratégico e cash is the king novamente”.

Quanto aos investidores, vale reforçar que o movimento de novos fundos sendo constituídos, trazendo ainda mais dinheiro novo. Isso apenas vem comprovar que o mercado continuará aquecido.

Como um indicativo, no ano passado no Estados Unidos, 771 fundos levantaram US$ 131 bilhões, constituindo um volume global de US$ 900 bilhões para investir em empresas de alto crescimento.

Um idicativo de que o valuations de companhias privadas de tecnologia certamente serão redefinidos, mas não faltará dinheiro, ele apenas será mais criterioso. Sobre esse ponto específico, inclusive, Marcelo também faz uma observação:

“Uma das principais práticas da Invisto é ajustar corretamente as expectativas dos empreendedores e a realidade dos primeiros anos de uma empresa”. 

Nosso modelo de gestão de portfólio em projetos B2B sempre foi focado em ajudar as empresas no desafio de estabelecer processos escaláveis e estáveis aliados à melhor eficiência de capital possível.

Uma das frases que mais usamos internamente é “muita luz também cega” e, nesse sentido, é importante que os empreendedores trabalhem com foco muito claro e com o volume de capital e recursos o mais ajustado que a execução permitir.

O mercado de venture capital, assim como qualquer investimento em tecnologia, é para quem tem visão de longo prazo, dado que justamente atua para construir as companhias do futuro.

No entanto momentos de crise, volatilidade e ajustes sempre farão parte deste amadurecimento, mas não é o fim.

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Investidora com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro e head de relações com investidores da Invisto

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