O dia 8 de março é marcado pelo Dia Internacional da Mulher. Como uma forma de reforçar o tema, meu objetivo hoje é trazer um pouco de opinião e dados de mercado financeiro e investimentos sob o nosso olhar.
Já faz tempo que mulheres falam de negócios, fecham negócios, são traders, sales, diretoras, conselheiras, e ainda, são mães, esposas e cuidam de seus lares como ninguém.
Especificamente quando olhamos o que vem acontecendo de mudança para as mulheres no mercado financeiro, notamos que o assunto é prioridade em grandes instituições, inclusive no competitivo quadrilátero de São Paulo: a Faria Lima.
Casas como XP, Banco Itaú, Bank of America e até fortes Assets, têm colocado à disposição vagas onde o pré-requisito é ser mulher, além de toda bagagem profissional e de formação.
O tema tem ganhado muita força e avançou em níveis muito relevantes. O mercado financeiro passa por um momento muito interessante no qual empresas ou times sentem-se constrangidos com o fato de terem poucas, ou como em muitas mesas de operações, nenhuma mulher.
Gosto do trecho do artigo de Nizan Guanaes, na Forbes, quando ele fala que “hoje a mulher quer ser capa da Forbes. O mundo, infelizmente, já foi das mais bem nascidas, depois das mais bem vestidas, depois das mais bem despidas, e hoje ele é da mulher que acorda cedo, encaminha as crianças para a escola e se veste para ir fazer um IPO ou lutar no parlamento, como Margareth Thatcher, que de dia fazia a história e de noite fazia o jantar”.
É isso, queremos ser capa da Forbes, mas ainda assim queremos apenas SER mulheres no comando de nossas vidas, estudando para isso e controlando a própria carreira em busca de reconhecimento e sucesso. Esperamos que esse seja nosso legado para nossas próximas gerações.
Neste sentido, uma amiga que por muitos anos dividiu a bancada de trabalho comigo em São Paulo, tem mais de 15 anos de experiência atuando no mercado financeiro e hoje ocupa um cargo e posição que exige muita responsabilidade, conhecimento e maturidade, preenche esse artigo comigo:
“Como brasileiras somos genuinamente otimistas e esse é o otimismo que vinha nos guiando desde os últimos traumas vividos em 2016 e 2018 no pós impeachment e greve dos caminhoneiros. Em 2019 nos enchemos de expectativa (e fôlego) afinal começava um governo liberal e reformista, e o Brasil precisava de muitas reformas. Viramos a página da Reforma da Previdência, um turning point para o Brasil e eis que fomos todos pegos de surpresa pelo coronavírus. O mundo desaba, os mercados emergentes sofrem mais com o descontrole da doença e das contas fiscais, mas o momento era de salvar vidas!
Ano novo, vida nova. Começam as vacinas e as notícias não tão boas: o Brasil não havia negociado grandes lotes de vacinas com as farmacêuticas, nem mesmo as que estavam testando e desenvolvendo o produto in loco. Apesar de a retomada da economia global apontar para a rotação dos Investimentos de growth (papéis de crescimento, principalmente tech) para value (commodities), e note: 1/3 do Ibovespa é composto por value stocks, o Brasil foi ficando para trás em comparação aos outros mercados emergentes. Eis que no dia 19 de Fevereiro começam a sair notícias sobre a interferência do Governo na política de preços da Petrobrás. Segunda-feira, dia 22 de fevereiro, o mercado financeiro amarga sua maior queda em 4 meses, com investidores estrangeiros diminuindo suas posições no Brasil (ações, juros e moeda) e PETR tem sua terceira maior queda em 6 anos”.
Para ela, “desde esse fatídico dia, vivemos no mercado financeiro dias de mais volatilidade e incertezas, locais cautelosos e estrangeiros decepcionados. Infelizmente os setores afetados pelo risco de interferência política não ficou limitado a petróleo, mas também bancos, elétricas e mineradoras. Os desafios fiscais e as amarras políticas já são complexos para nós que vivemos aqui, falamos português e temos acesso a diferentes fontes de informações e pontos de vistas, imagine para o gringo que além da barreira cultural tem todo o resto do mundo como opção de investimento. O fluxo de entrada de capitais para fundos locais que vinha batendo recordes antes da pandemia hoje é bastante tímido. O consenso é que nosso governo em 2021 vai seguir em zigue-zague, hora liberalista, hora intervencionista. Em 2022 teremos eleições e reformas são impopulares.”
Esse é o comportamento do Ibovespa (gráfico abaixo) diante do que significou esta interferência no mundo de equities e renda variável. Os impactos sofridos individualmente nos papéis relacionados ao índice também são interessantes de análise:
A Petrobrás, mais uma vez sendo a estrela de forte movimento – PETR4, ainda amarga, o fluxo daquele dia e não voltou aos mesmos níveis.
ELETROBRÁS (ELET3) – o papel sofreu bem no mesmo dia 22 de fevereiro, como um reflexo da interferência em Estatais, mas na sequência demonstrou um movimento de recuperação dado que o Governo protocolou o projeto de privatização da empresa, fato este que claramente o mercado vê com bons olhos.
Finalmente, BANCO DO BRASIL – BBAS3, sofreu em função do mesmo viés da intervenção do Governo, no entanto na sequência já seguiu em recuperação tendo em vista que muito do movimento pode também ser explicado por um “ajuste de preço” em função da forte retomada no final do ano com os investidores direcionando posição de “growth” para “value”
“A bolsa brasileira continuará sendo sustentada pelos investidores locais enquanto a taxa de juros estiver baixa e os brasileiros acreditarem que esse é um bom investimento apesar dos riscos envolvidos”, destaca a profissional.
Grande parte do fluxo direcionado para o mercado de ações tem sido sustentado por essa tese e ainda assim, percebemos um movimento paralelo ao percebido pela B3 no investimento direto, naquele que vai direto para as empresas que podem fazer a diferença e trazer um yield adicional à carteira dos investidores.
O fato é que o brasileiro sempre encontra um jeito de tentar administrar novas crises, novos cenários e o investidor tem evoluído a ponto de começar a encarar o futuro de seus investimentos, através de empresas que não sofrem tanto com a volatilidade das notícias que impactam as grandes empresas que são negociadas na bolsa.
O clichê da diversificação nunca esteve tão em alta e prova disso é que em 2020, o avanço tecnológico ganhou muita força e acelerou uma grande mudança nos nossos hábitos de consumo e na forma de acreditar e investir em novas ideias.
Mesmo com as turbulências, as startups brasileiras conseguiram conquistar um volume recorde de investimentos ao longo do último ano.
No ano passado, as empresas de inovação do país receberam ao todo 3,5 bilhões de dólares, 17% a mais que os 2,97 bilhões de 2019. Os dados são de levantamento do Distrito, startup que monitora o setor.
Precisamos destravar a economia e gerar mais oportunidades. Se a tecnologia e o mercado paralelo das startups e empresas de inovação são o caminho para isso, além de ser uma alternativa aos juros baixos e nova fonte de rendimento aos investidores, então direcionamos nosso otimismo para isso.
Caso contrário, como reforça minha colega, teremos que apertar os cintos e continuar torcendo para que o Brasil não seja eternamente o país do futuro.