A proposta de hoje é trazer o olhar de um jovem que escolheu Florianópolis e, especificamente uma gestora de venture capital, para passar suas férias. Nesta época está oficialmente aberta a temporada do summer job lá fora e, ao contrário dos grandes centros e empresas de São Paulo, a cidade foi escolhida por seu DNA empreendedor e principalmente por se mostrar como o berço das grandes ideias em tecnologia.
Dessa forma, a seguir compartilho a experiência de um estudante, desta nova geração que constrói seus próximos passos, muitas vezes movido por um propósito de vida especialmente deles, que engloba trabalho, qualidade de vida e, principalmente, pensar no futuro. Divirta-se.
“O título deste texto: essa foi a pergunta que recebi de quase todas as pessoas depois de contar que viria passar uma temporada junto a Invisto, uma das maiores gestoras de fundos de Venture Capital no Sul do Brasil. E se você não conhece a área de Venture Capital, eu imagino que você faria a mesma pergunta caso me conhecesse. Vou mostrar na sequência desse texto que na verdade a pergunta a se fazer é: “por quê não?”
Para quem não sabe o que é Venture Capital, eu posso resumir rapidamente como a arte de investir em sonhos que vão facilitar a vida das pessoas. Falando de forma objetiva, Venture Capital é o investimento em empresas com alto potencial de crescimento mas ainda em um estágio inicial na vida corporativa (as famosas startups). Mas o que Florianópolis tem a ver com isso?
A cidade está no olho do furacão quando o assunto é inovação tecnológica no Brasil. Em uma iniciativa conjunta entre a iniciativa pública, universidades, empreendedores da área da tecnologia e grandes investidores, Florianópolis se tornou o Vale do Silício (Silicon Valley) brasileiro. Localizada na Associação Catarinense de Tecnologia, a gestora está estrategicamente posicionada para encontrar grandes oportunidades de investimento e com um crescimento exponencial.
Eu acabei não me apresentando, meu nome é Cristian Marinho, sou estudante da ESCP Business School (Universidade Francesa com campus em 6 países na Europa) e a pedido da Marina vim falar sobre como foi a experiência da minha primeira semana trabalhando nesse ecossistema de inovação dentro do Venture Capital.
Um disclaimer, se você pretende trabalhar com venture capital, esteja pronto para começar a todo vapor, e trabalhar em um ritmo frenético, porém ultra flexível. Todos esses fatores contribuem para que possamos nos adaptar a situações de alta pressão e podemos aprender a tomar decisões informadas e exatas em um curto período de tempo. Isso associado a responsabilidade de gerir o dinheiro dos investidores da melhor maneira possível, forma profissionais muito bem preparados para qualquer desafio que possam enfrentar.
Eu comecei em uma segunda-feira, cheguei no escritório alguns minutos antes da reunião de equipe semanal. Tive tempo só para me ajeitar na nova mesa e tomar um copo de café e logo me vi, um trainee recém chegado em seu primeiro dia de trabalho, em uma reunião com alguns dos sócios gestores.
Nessa reunião decisões sérias estavam sendo tomadas, e o mais surpreendente, todos os presentes participando desse processo. Essa inclusão é típica de startups, é uma estratégia de manter equipes enxutas onde todos os membros conseguem compreender o Big Picture da empresa.
Outras atividades da rotina de uma gestora de fundos de Venture Capital incluem manter uma relação constante com empreendedores locais. Receber novas oportunidades de investimento e avaliar como essas empresas se encaixam na tese do fundo, realizar análise financeira e o valuation das empresas do portfólio do fundo além de continuamente prospectar novos investidores.
Eu vivenciei em uma semana o que demoraria anos em uma gestora de investimentos mais engessada e burocrática ou até mesmo em uma cadeira na universidade.
O aprendizado é imensurável, mesmo quando sinto que não tenho ideia do que estou fazendo (o que é normal quando se trabalha com pessoas talentosas), mas, o mais valioso é o sentimento de estar fazendo parte da construção de um ecossistema que vai revolucionar o meu país com inovações e facilitar a vida cotidiana de todas as Marias e todos os Josés espalhados pelo Brasil, isso não tem preço.
Em comparação com o mercado europeu de Venture Capital ainda estamos muito atrás em termos de volume financeiro, número de deals e com a preocupação com fatores ambientais, sociais e de governança (ESG). No ano passado, de acordo com a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), houveram 200 deals de fundos de venture capital em startups brasileiras, enquanto na Europa esse número foi superior a 9 mil deals. Os 200 deals do último ano no Brasil movimentaram R$ 14,6 bilhões, já no mercado europeu, o volume de investimentos em startups totalizou R$ 275,6 bilhões (42,8 bilhões de Euros na cotação atual).
Outro quesito onde o mercado de venture capital na Europa pode servir de referência para o Brasil é o comprometimento com a sustentabilidade. Enquanto no Brasil ainda estamos engatinhando quando o assunto é implementação de medidas ESG no mercado financeiro, ainda existem poucos fundos de Capital de Risco especializados em Impact Investing. A Europa se tornou referência global no assunto quando em março de 2021 entrou em atividade o SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation) que tornou obrigatória para todos as instituições gestoras de recursos financeiros na Europa a realização de reports contábeis do impacto social positivo ou negativo de cada investimento realizado, criando um framework sobre os quesitos ESG no continente. Isso demonstra o comprometimento dos países com um desenvolvimento sustentável, inclusive na hora de efetivamente investir o capital.
Dito isso, o Brasil é um ecossistema pulsante de inovação, firmado em uma cultura nacional de empreendedorismo, o que favorece o crescimento do Venture Capital, principalmente, se ancorado no desenvolvimento da desburocratização, fundraising internacional e o avanço tecnológico. Para se ter uma ideia, quando comparado ao mercado americano, a nossa relação de investimentos em VC/ PIB é 11 vezes menor .
Um dos principais fatores determinantes de sucesso de uma startup é oferecer uma solução para um problema real e cotidiano enfrentado pelo mercado alvo, e esse é um ponto que nos faz ver com otimismo a evolução dessa indústria em território tupiniquim. Isso se dá uma vez que ainda temos muito a evoluir quando o assunto é a utilização da tecnologia para simplificar nosso dia a dia – além de sermos a 6a maior população do mundo. O potencial brasileiro é evidenciado pela existência de 11 unicórnios brasileiros (startups que atingem a avaliação de mercado de US$1 Bilhão ou mais), e recentemente, em 2021, pela scale up Madeiramadeira, localizada no sul do Brasil, que se tornou um unicórnio.
Para finalizar esse texto, eu trago a reflexão feita por Harry Stebbings, fundador do fundo britânico de Venture Capital Stride.VC e do famoso podcast 20minutesVC):
“O mais incrível de se Investir na América Latina é: você está investindo em soluções que trazem uma melhoria de 90% para a rotina de 99% da população. Geralmente quando investimos em mercados como o Europeu, estamos tentando melhorar em 10% o dia a dia de 5% das pessoas”.
Além de acreditar fortemente no dito pelo investidor do Vale do Silício, Marc Andreessen, em 2014 que “In the future, all companies will be technology companies” e neste mercado que além de proporcionar retornos brilhantes aos investidores, pode também mudar o mundo, acredito nesta geração que está aí para oxigenar as estruturas tradicionais das empresas e mostrar a que veio. Trabalhar com um propósito deveria ser objetivo de todos e eles não pensam nisso, simplesmente fazem, porque é o que lhes faz bem, ganhar dinheiro é a consequência. Estamos no futuro já!