Na última semana, com a rotina diária das nossas reuniões, percebemos um sentimento generalizado de que continuamos esperando as coisas melhorarem. Estamos esperando a pandemia passar, esperando as reformas acontecerem, esperando os índices de confiança melhorarem, esperando mudanças no ritmo acelerado da inflação, esperando… O fato é que precisamos focar no copo meio cheio para voltar a crescer e construir dias melhores.
A reforma administrativa está prestes a acontecer, a da previdência já podemos considerar página virada, algumas estatais serão finalmente privatizadas para o alento do estado e devemos ver um cenário mais otimista voltar a ser desenhado. A vacina está chegando e, apesar de o Brasil estar um pouco atrasado, em mais alguns meses veremos grande parte da população vacinada.
Na contramão desse desânimo geral, vemos que o mercado de tecnologia vem performando a passos largos, reforçando a percepção que vivemos com as crises recentes, que foram catalisadores para a adoção de soluções tecnológicas em massa e criaram valor para os investidores ao longo dos anos subsequentes. A pandemia também tem se provado um grande divisor de águas para o setor.
De fato, para países como Brasil, tidos como mercados em desenvolvimento, essa percepção é ainda maior, dado que as transformações para superar cenários como o que vivemos há um ano atrás são muito desafiadoras e a adoção de tecnologia que tragam disruptura é parte essencial para o vencer alguns paradigmas.
De lá pra cá, observamos um movimento excepcional das ações de tecnologia na B3, muitas empresas se consolidando como grandes players e transformando suas operações em ecossistemas inovadores que ganham escala rapidamente. Prova disso é o descolamento de algumas dessas empresas listadas em Bolsa como demonstrado pelos dados abaixo.
Outra forma de se beneficiar dessa onda que se descola dos problemas macro, é certamente olhar com mais profundidade o que vem acontecendo no mercado de venture capital.
Este mercado se apresenta como uma classe de ativos anti-cíclica, comprovando que a sua evolução não está correlacionada com os momentos de crise global. Foi justamente o vivenciado com a crise do México em 1994, da Ásia em 1997 e do Subprime em 2009 quando a variação do PIB Global foi de -5,2% e o retorno de venture capital foi de quase 20%. Em outras palavras, investir em tecnologia é uma poderosa ferramenta para a busca de maiores retornos ou pelo menos algum retorno financeiro em momentos de crise.
Isso porque em muitos casos, as startups que geram essas tecnologias estão perseguindo mercados recém criados ou roubando market share dos players que se movem mais lentamente. Ainda, muitas destas startups estão perseguindo mercados que se tornaram viáveis apenas quando mudanças abruptas criaram eventos favoráveis, como mudanças nas regulamentações, o surgimento de melhores tecnologias e uma queda no custo de implementação. Além disso, não estamos falando de empresas abertas e marcadas diariamente no mercado, esta classe de ativos não é marcada em tempo real. Finalmente, as startups lutam por uma fatia menor e menos competitiva do mercado, enquanto as gigantes tentam crescer em um patamar mais competitivo em busca de uma base maior de receita.
A etapa que proporciona a liquidez dos investimentos em venture capital, são justamente as operações de saída, os chamados exists, que são o resultado dessas operações. Um círculo virtuoso que é alimentado pela descoberta da oportunidade inovadora, acompanhamento e crescimento da mesma e finalmente a saída através de diferentes alternativas que pode ser desde uma operação de M&A até um IPO.
Prova do aquecimento destas operações são os números que mostraram um crescimento fenomenal quando analisado a evolução QoQ 20/21 conforme indicadores dos dados consolidados da indústria de PE/VC do 1°Q 2021 da ABVCAP. Ainda, os indicadores de fusões e aquisições alcançaram um recorde histórico em 2020, tendo o volume aumentado 14% em relação a 2019 com o setor de tecnologia como destaque, representando 38% do total transacionado.
A safra atual do mercado de venture capital precisa agora comprovar sua eficiência e ao que tudo indica, vai começar a mostrar operações de saída interessantes, que provavelmente trarão resultados de múltiplos atrativos para os investidores, e também, performance aos gestores desses veículos. Tudo isto, estimula ainda mais o momento favorável do mercado para os investimentos do considerado “capital paciente” ou de longo prazo, o venture capital.