Temos acompanhado paralisações feitas pelos funcionários do Banco Central (BC) há dois anos, de 24 e 48 horas a cada dois ou três meses. Independentemente da curta duração e os efeitos não sentidos diretamente (como ocorre em uma greve de transportes, por exemplo), elas também impactam profundamente a vida do brasileiro. O atraso na autorização de novas instituições financeiras terá o decorrente efeito de postergar a descentralização do setor financeiro que elas poderiam desempenhar.
Essas fintechs, como as Sociedades de Crédito Direto (SCDs) e as instituições de pagamento (IP), que aguardam a aprovação do BC para iniciar as atividades, atendem nichos específicos da economia, e têm modelos de negócios inovadores, pensados muitas vezes de forma personalizada. Por isso, a demora na sua formalização junto ao BC pode causar impactos relevantes aos públicos que elas já poderiam estar atendendo.
A chegada das fintechs no Brasil teve um papel importante de tirar o monopólio dos serviços financeiros dos grandes bancos nacionais e suas taxas inacessíveis para grande parte da população. Ao contrário deles, as contas digitais que dispensam a locomoção às agências são capazes de atender milhões de brasileiros gratuitamente, facilitando o acesso ao crédito e outros produtos bancários.
De acordo com um estudo encomendado pela Zetta (associação de empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais), R$ 7,9 bilhões foram economizados pelos brasileiros em tarifas bancárias somente no último trimestre de 2022 – resultado da concorrência estimulada pela entrada das fintechs no sistema bancário há pouco mais de dez anos no Brasil. Na época, o país contava com 55 milhões de desbancarizados. Esse número caiu para 4,6 milhões em 2022, segundo o Instituto Locomotiva.
Projetos do BC na agenda para 2024
A sucessão de greves também deve atrasar o lançamento de produtos programados pelo próprio Banco Central para este ano, como o Drex: Real Digital, o aprimoramento do Pix (lançamento do Pix Automático e criação de canais de denúncia sobre fraudes com o meio de pagamento), a agenda de cibersegurança e a regulação de criptomoedas.
Projetos digitais no sistema financeiro nacional dependem do desenvolvimento de tecnologias de alta complexidade. Isso é parte do argumento dos servidores para a manutenção das greves. Segundo a presidente da ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil), Natacha Rocha, há uma percepção distorcida da população brasileira com relação à remuneração dos funcionários do BC e as reivindicações dos trabalhadores buscam isonomia entre as carreiras de Estado, além da criação de um bônus de produtividade e medidas de reestruturação de carreira, como a exigência de ensino superior para o cargo de técnico (o que altera a qualificação necessária para ingresso na carreira) e alteração de nomenclatura do cargo de analista para auditor.