Hoje o assunto que quero colocar na mesa é: diversidade. Não no sentido genérico da palavra: qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado.
Minha intenção aqui é propor uma discussão a respeito da diversidade de equipes sob o aspecto do desempenho das empresas, assim como nos investimentos.
Sabemos que equipes variadas tomam melhores decisões, inclusive, pude discutir sobre o tema com André, CEO da mobLee, uma das investidas da Invisto.
Para ele, “pessoas com backgrounds diversos são eficientes em solucionar problemas complexos, a diferença de opiniões é extremamente importante para a evolução de uma empresa”.
Talentos diversos permitem que uma empresa veja os problemas através de uma infinidade de perspectivas.
No ano passado, quando a estrutura tradicional do trabalho nas empresas foi colocada à prova diante da pandemia, assuntos como diversidade e inclusão tomaram outra proporção e os olhares do mercado foram afiados no tema. Uma quantidade enorme de ações foram expostas em torno do tema.
Em seu estudo 2018 Millennial Survey a Deloitte Canadá identificou que a geração dos millennials, a maior geração economicamente ativa, acredita que empresas diversas são mais atraentes para se trabalhar.
A pesquisa com mais de 10 mil millennials descobriu que aqueles que trabalham para empresas diversas têm mais probabilidade de dizer que seus empregadores oferecem locais de trabalho motivadores, inovadores e criativos do que seus pares do mercado menos diversos.
Além disso, os entrevistados que trabalham para empresas diversas relataram ter mais oportunidades de desenvolvimento de talentos, uma consideração importante para muitos dessa geração.
Esta constatação vai em linha com a sequência do meu papo com André. Aqui no Brasil, mais precisamente em Florianópolis, ele reforça que o commitment com o trabalho em uma empresa que preza pela diversidade é maior e nitidamente detectável, dado que o turnover da equipe reduz muito.
Isso gera um ciclo de eficiência com maior produtividade e motivação, reforça a reputação da empresa e o reflexo disso é um melhor desempenho financeiro.
Outro aspecto que podemos abordar a respeito do assunto é que a relação é diretamente proporcional a desempenhos financeiros superiores.
No ano passado, a McKinsey descobriu que as empresas com os níveis mais altos de diversidade de gênero nas equipes executivas tinham 25% mais probabilidade de ter lucratividade acima da média do que as empresas dominadas por homens.
Enquanto isso, as empresas com maior diversidade étnica e cultural eram 36% mais suscetíveis a performar em termos de lucratividade do que seus concorrentes menos diversos.
A própria Organização Internacional do Trabalho (OIT) comprova que empresas preocupadas com diversidade têm seus lucros maiores entre 5% e 20%.
Sob o aspecto econômico, um estudo do Boston Consulting Group (BCG) demonstra que a diferença de gênero em cargos estratégicos elevaria o PIB mundial entre US$2,5bilhões e US$5,0bilhões.
Voltando ao ponto inicial desta reflexão, sabemos então que times diversos tomam melhores decisões, mas não apenas isso.
NO CAMPO DOS INVESTIMENTOS…
Um estudo recente feito pela HBR (Harvard Business Review) revelou que times diversos também geram melhores investimentos.
O estudo escolheu o mercado de venture capital para embasar sua análise, dado que as estruturas são relativamente enxutas.
Todo investidor em venture capital pode ser também um tomador de decisões e, as suas escolhas têm claras consequências para o negócio.
Ainda, trata-se de um mercado com poucos players, onde todos sabem quais empresas fazem quais investimentos e é possível identificar inclusive o indivíduo que o fez, dado que este também pode ocupar uma cadeira no conselho das empresas.
Analisando informações públicas, podemos identificar as características natas dos gestores de risco como gênero e etnia, assim como as características adquiridas dos mesmo em relação a formação e background profissional.
Em outras palavras, podemos ver o quão semelhantes ou diferentes esses tomadores de decisão são e comparar a qualidade de suas decisões com base no desempenho de seus investimentos.
O objetivo de todo investidor de capital de risco e venture capital é escolher e preparar as empresas que produzirão os melhores resultados possíveis.
E como os resultados financeiros de parcerias homogêneas se comparam àquelas com participação diversa? As diferenças são evidentes.
De acordo com a pesquisa da Harvard, a taxa de sucesso de aquisições e IPOs foi 11,5% menor nos homogêneos, empresas de venture capital que aumentaram em 10% a participação feminina, tiveram em média um aumento de 1,5% nos retornos gerais do fundo a cada ano e tiveram 9,7% mais saídas lucrativas.
Dessa forma, quanto mais semelhantes forem os parceiros de investimentos, menor será o desempenho dos investimentos.
Segundo HBR o impacto da homogeneidade fica evidente não no momento do investimento, dado que pode ser o mesmo, mas sim ao longo do processo, quando a equipe de gestão dos investimentos é convidada a participar das decisões das investidas, orientando em aspectos estratégicos, de recrutamento e outros esforços essenciais para a sobrevivência de uma empresa jovem no mercado.
Então, dado que a homogeneidade impõe custos financeiros e a diversidade produz ganhos financeiros, os estudiosos de HBR recomendam 3 cuidados para gestores e administradores:
- Começar cedo! Isso mesmo, institucionalizar a diversidade desde o começo da vida da empresa. Isso porque é muito mais fácil adotar e priorizar as diferenças em times pequenos e em formação do que em grandes organizações, com cultura e processos enraizados;
- Ajustes simples no processo de seleção podem aumentar a diversidade e isto já foi comprovado quando aplicado testes de potencial às cegas. Esse processo tende a evitar pré-julgamentos pessoais, estereótipos e preconceitos que prejudicam um bom processo de seleção. Assim, arrisco em dizer que trazer algumas mulheres talentosas ou minorias raciais para estes pequenos grupos de venture capital, pode mudar o equilíbrio do poder e trazer resultados no mínimo interessantes;
- A diversidade vai além do ambiente de trabalho. E realmente deve ir, principalmente em se tratando de VC quando os grupos são pequenos, seletos e restritos. Se ainda assim forem homogêneos, oportunidades de negócios podem ser deixadas à mesa. Desta forma, deve-se estimular a interação fora do ambiente de trabalho dado que esse networking pode melhorar o desempenho individual e organizacional.
Construir um negócio e investir nele vai muito além de ter sucesso, executar um bom exit ou grandes múltiplos. Construir um negócio deve estar relacionado a formar pessoas melhores e mais comprometidas com a sociedade.
Uma cultura organizacional altamente desenvolvida é aquela que abraça a diversidade e a inclusão, a fim de construir a sua força. Não se trata de caridade. Investir em uma equipe diversificada é lucrativo para qualquer negócio.
Além de garantir representatividade compatível com os diversos perfis de consumidores, colaboradores com culturas e histórias de vida diferentes, tornam a empresa mais democrática e criam um ambiente propício para inovação.
E sob o olhar dos investidores de venture capital, recomendo escolher aqueles gestores que promovem a diversidade, isso pode proporcionar, no limite, maior retorno ao seu capital.