No artigo de maio, eu trouxe uma reflexão sobre a relevância da formação de alianças e parcerias dentro do ecossistema de tecnologia catarinense. Entretanto, a colaboração entre os players do setor não pode se restringir às startups e empresas da área. É preciso focar na descentralização e enxergar o potencial de instituições como cooperativas de crédito, por exemplo, para o crescimento do ecossistema.
Um estudo divulgado pelo Banco Central no ano passado mostrou o crescimento do cooperativismo de crédito no Brasil e como as cooperativas têm respondido às crises de forma diferente dos bancos tradicionais: suavizando os efeitos negativos de recessões. No Brasil, em 2020, as pequenas empresas que buscaram crédito nos sistemas cooperativos tiveram taxas de sucesso maiores do que junto ao setor bancário. De 2016 a 2020, a carteira de crédito do setor pulou de 2,74% do total do Sistema Financeiro Nacional (SFN) para 5,1%, passando de R$ 95 bilhões para R$ 228,7 bilhões. O número de associados também aumentou, chegando a 11,9 milhões, em dezembro de 2020. Mesmo com a pandemia, houve crescimento de 9,4% em relação a 2019, e de 42,1% em relação a 2016.
Os dados mostram que o cooperativismo exerce um papel fundamental no apoio às pequenas empresas, que encontram nessas instituições uma abertura maior em relação aos grandes bancos. O crescimento no número de cooperativas de crédito está associado também a um movimento de descentralização e de inclusão financeira. No Brasil, 34 milhões de brasileiros ainda estão desbancarizados, sem conta bancária ou que a usam com pouca frequência.
Os dados, levantados por meio de uma pesquisa do Instituto Locomotiva, são referentes a janeiro de do último ano, e mostram que 10% dos brasileiros não tinham conta em banco (16,3 milhões), e outros 11% (17,7 milhões) não movimentaram a conta no mês anterior, o que totaliza 21% do total. O estudo mostrou ainda que os 10% de brasileiros sem conta em banco são majoritariamente do interior, mulheres, mais jovens, das classes D e E e menos escolarizados. A inclusão financeira, além de gerar benefícios para a economia, proporciona facilidades e oportunidades para as pessoas. No meio rural, ela contribui para o financiamento da produção, ajudando na escalabilidade do negócio e gerando mais emprego e renda.
Na CashWay, por exemplo, cooperativas de crédito rural foram responsáveis por mais de R$ 467 bilhões em transações financeiras desde o início das operações da empresa. O valor corresponde a 90% do total transacionado desde 2019 na plataforma, que oferece serviços em tecnologia para gestão e regulação de instituições financeiras e de pagamento, dentre elas cooperativas de crédito, fintechs e SCDs. Com o propósito de democratizar os serviços financeiros, a techfin tem ajudado a levar para o interior do país acesso à tecnologia com benefícios como crédito, conta e transações bancárias aos pequenos e médios produtores rurais. Não há crescimento neste setor sem incluir pessoas e empresas de diversos perfis financeiros. E para isso acontecer, é preciso priorizar o relacionamento entre todos os players. Estimular a conversa entre empresas de tecnologia e cooperativas, para alinhar objetivos e formar parcerias, é um caminho. Não é à toa que cooperativas são um modelo de sucesso em cidades pequenas, onde o costume da proximidade está instaurado entre as pessoas. Inspirar-se neste “jeito de fazer” pode agregar, e muito, para o ecossistema de tecnologia.